Não são MESMO.

Como mulher posso dizer que isto faz parte do meu — do nosso — quotidiano e vamos aprendendo, cada uma à sua maneira, a gerir ou, pior, a viver com isso. Como explicar a um homem, que afirma respeitar-nos, que os seus comentários ultrapassam os limites? Explicando. Afirmando. Normalmente a reação é de espanto, como se estivéssemos erradas. Histéricas demasiado sensíveis, a quem não se pode dizer nada. Poder, pode. Depende do que se diz, como se diz e em que contexto se afirma. Por segurança, o melhor é calarem-se. Ficamos todos melhor.

Elogiar um corte de cabelo? Está à vista de todos.

Ficas com bom ar

Fica-te bem

Esse corte de cabelo faz-te mais jovem

Totalmente inofensivo... Excepto o facto de que os homens — todos os homens — não reparam nos cortes de cabelo. Quando reparam ou foram previamente avisados (amor... hoje vou cortar o cabelo) ou são mais do que apenas simpáticos.

De um amigo aceitamos que nos elogie porque em seguida brincamos ou o mandamos à m*rda se estiver a ser parvo. O tema acaba aí. Se for um bom amigo, daqueles com as questões resolvidas e que sabemos que nos respeita, que respeita o facto de sermos homem e mulher, que nos trata como se fossemos um gajo e a quem fazemos perguntas ou desabafos de gaja, a esse até perguntamos se a roupa favorece ou se o corte de cabelo vai chamar à atenção do nosso namorado. O gajo, esse amigo, tem o discernimento e objetividade para nos ver como somos e elogiar como se fosse irmão. Depois... há os outros, os parvos, aqueles a quem não podemos sequer mostrar os dentes porque já estamos a ser oferecidas. São tão óbvios que nos limitamos a estar sempre sérias e distantes para os evitar.

Nota: não temos de o fazer porque não temos de evitar nada. Este tipo de homem é que tem de se enxergar e refrear os ímpetos e palavras. Basicamente, antes de falar, que se cale. É melhor para todos.

Também há o libertino, que nos perscruta com o olhar como se estivesse simplesmente a admirar os sapatos que escolhemos calçar. Nada diz mas o olhar não engana e, à menor oportunidade, ataca. Passa de imediato à ação sem elogios ou insinuações. Normalmente leva um estalo na cara.

Conheço um outro tipo, o chato. Semi-inofensivo porque tem noção de que o que está a fazer é errado mas não aguenta. Na verdade, não se aguenta. Cada vez que nos aproximamos, seja porque razão for, começa o ritual do habitual, seguido dos convites com base no argumento de que querem muito — mesmo muito — ser nossos amigos. São normalmente inteligentes e querem caçar-nos dessa forma, achando — mesmo que na verdade não pensem assim — que somos burrinhas e não percebemos a jogada. Também nos querem levar para a cama e davam o dedo mindinho por um beijo. Só que não. Nunca acontece porque nós não deixamos. Na verdade, não queremos.

Há um que não encaixa verdadeiramente na definição mas também é um predador: o chefe que comenta a roupa que vestimos sem a menor noção. Noção de estilo, de moda, oportunidade, de se olhar ao espelho, afirmando o que devemos ou não, usar, num ambiente cuja regra é... a ausência de regra. Nesse momento pensamos o que dirá este anti-fashionista à colega que usa cintos largos sem meias opacas ou à outra que se esqueceu que as mamas ocupam espaço e teima em usar decotes pronunciados. Também nos ocorre perguntar onde compra os sapatos ou as gravatas ou se os terá herdado do pai e, por homenagem, insistem e usar as suas peças. É alguém que não tolera o menor detalhe stylish e abomina essa ideia de que podemos seguir as tendências de moda. Não sabe aliás, que isso existe.

Há ainda o verdadeiro c*brão requintado que tem poder e o usa para nos conquistar ou para nos atrair. Sabe que há mulheres que se deixam seduzir pelo poder e pensa que são todas assim. Aliás, só vê um tipo de mulher, o estereótipo norte-americano da bimbo, com a sua roupa coleante e excesso de maquilhagem. Acontece, por vezes, entrarmos na toca do lobo, da qual é um problema sair. São normalmente casos de relações de poder desequilibradas entre colegas de trabalho e, principalmente, chefias nas empresas. Ele tenta subjugá-la porque pode, enquanto ela vai resistindo com a diplomacia e o jogo de cintura que tão bem caracteriza as mulheres. Ela sabe que se ceder ficará para sempre nas suas mãos e que, aquilo que tenta evitar, se irá repetir. Também sabe que não vai conseguir manter o jogo de insinuações e sedução barata igual à dos filmes de Hollywood durante muito tempo, fazendo tudo o que pode para ganhar tempo e encontrar uma solução. É de um desgaste enorme para a vítima e um prazer desmesurado para o predador que se auto-vangloria por cada milímetro que consegue avançar. Até ao dia em que a coisa corre mal. Normalmente corre muito mal.

Conclusão? Seja o parvo, o libertino, o c*brão, o chato ou qualquer um dos outros...

Mexeu? Si f*deu! (ler com sotaque brasileiro sff)

PS: um agradecimento especial a todos os (muitos) homens que nos respeitam e não encaixam nestas categorias.