Eu tenho amigos de direita. Tenho um filho de direita. Não tenho nada contra quem segue esta linha política, mas tenho tudo contra a politiquice da treta. Temos para todos os gostos: se o/a candidato/a comprou uma casa é por ter comprado uma casa; se o/a candidato/a sabe fazer contas é por sabe fazer contas; e por aí fora.

Mas também temos este registo à esquerda. Não tenho a menor paciência para o argumento de que alguém não tem como governar uma cidade por não saber quanto custa um bilhete de metro (que não é uma empresa municipal, a última vez que verifiquei, e existem múltiplos tarifários).

Ataques e mais ataques, sem grande mérito para quem os começa, sem grande mérito para quem os decide combater. Na verdade, trata-se da canseira habitual em vésperas de eleições e que tem o condão de comover muito pouco o eleitor que estará entretido com o último reality show ou com a bola (talvez possamos inverter isto, porque a bola é evidentemente quem mais ordena).

Portanto, grande parte do debate político é entre políticos e os políticos, já se sabe, alimentam-se disto como os pombos no Chiado se alimentam de qualquer coisa que caía das mãos dos turistas ou dos locais.

Ideias? Ouço nos debates entre candidatos que existem ideias e estratégias, mas não há – quase nunca – um esmiuçar das mesmas. Para ver se eu, e qualquer outro eleitor, concordamos com as mesmas, e se apostamos no senhor ou senhora A por ter um plano com o qual possamos concordar. Não, nada disso. Temos umas coisas a que chamamos debates, temos os habituais com engajamento político e com palas nos olhos e pouco ou nada passa disto.

Acresce ainda que a direita tem feito um pobre serviço à democracia, por não ter candidatos que sejam – vá, vou ser querida e fofa - carismáticos. Não, a direita tem candidatos que são “mais ou menos”, são os “possíveis”, o que é preocupante porque fragiliza o processo democrático e a possibilidade de qualquer debate. Como o primeiro-ministro carrega no bolso das calças as duas esquerdas que podiam fazer alguma oposição, o cidadão que seja como eu, esperaria da direita mais política e menos politiquice. Não acontece.

O que é mesmo bom é fazer alvo aos patos, tiro para aqui, para acolá e a grande máquina do mais-do-mesmo vai rolando.

A minha fé na política é cada vez menor e, tenho cá para mim, estou cada vez menos sozinha nesta convicção. Por outro lado, espanta-me que existam pessoas que ainda queiram servir o país ou exercer qualquer tipo de serviço público, porque o escrutínio é absurdo, a maldade e a deficiência de alguns jornalistas é crónica e, por fim, nem sequer é bem pago.

Talvez eu esteja errada, pode sempre acontecer, mas temo muito pelo futuro da nossa democracia que, afinal, ainda nem tem 50 anos.