Uma ex-agente da CIA, cá das nossas, foi detida, para cumprir pena já decretada, por ter participado no rapto de um líder religioso egípcio, em 2003, em Itália. É certo que a senhora tem agora 61 anos e se chama Sabrina, mas isso interessa pouco – é um momento alto da nossa capacidade de espiar e raptar. Ao mesmo tempo, perigosos fugitivos chilenos conseguem fugir da prisão de “alta segurança” de Caxias, sem rasto nem lastro.

Na semana passada, um assalto em pleno dia no Centro Comercial das Amoreiras veio mostrar que, em matéria de roubo à mão armada, estamos à altura dos americanos (ou, pelo menos, das series televisivas americanas...). E já tinham sido apanhados em território nacional traficantes de primeira do mundo da droga. Uma vista de olhos diária ao Correio da Manhã prova o que falta para chegar onde quero: não é apenas no sistema Multibanco, Via Verde, no turismo de Lisboa e Porto, ou na queda dos números do desemprego, que Portugal marca pontos e está na cabeça do pelotão do desenvolvimento – também no reverso da medalha começamos a dar cartas. Temos entre nós malandros de estatura internacional, crimes de peso, e um Carnaval (a imitar cada vez melhor o brasileiro...) a animar as ruas nos próximos dias.

Perante este conjunto de incontornáveis factos, recordo ainda que era Donald Trump uma criança e já nós convivíamos com Alberto João Jardim, que havia família Salgado quando a realeza espanhola se revelou, e que a nossa banca não deve nada às estrangeiras em matéria de vulnerabilidade por evidente má gestão.

Ou seja: somos tão bons como os outros, da mesma forma que somos tão maus ou piores do que eles. Com uma ligeira desvantagem para nós: a escassa dimensão, a eterna pequenez, e uma tendência inata para o “logo se vê”.

Talvez por isso, no momento em que o Governo vem vangloriar-se dos progressos conseguidos, dos números e das estatísticas, do progresso e da “geringonça”, o espectador comum, como eu, duvida e pergunta-se: será assim, ou vamos esperar sentados a próxima desagradável surpresa? Vivemos, como escreveu João Miguel Tavares, na “bolha da inconsciência”, ou chegámos por fim a um patamar de equilíbrio em que, como escrevi, também o crime chega a níveis internacionais?

Até há uns anos, tínhamos a imprensa – que nos ajudava a perceber a relevância e hierarquia de tudo isto. Hoje temos cada vez menos imprensa – ou, como dizia há dias o director do Washington Post, mais evidências de que a imprensa pode acabar, e menos de que continue... -, e cada vez mais títulos soltos nas plataformas que dominam a informação. E esta dispersão baralha-nos ao ponto de podermos achar que uma ex-expiã da CIA, por fim detida, nos coloca na linha da frente do desenvolvimento, apenas pelo facto de ser portuguesa...

Algo me diz que o mundo, mais do que perigoso, está baralhado e confuso. Já ninguém percebe o que se passa, parece-me. Mas uma coisa é certa: não é pelas redes sociais nem pelos googles desta vida que vamos saber mais e melhor.

Saudades de uma coluna de Victor Cunha Rego, ou de uma primeira página “desenhada” por Mário Bettencourt-Resendes...

Jornalismo à beira do abismo...

Excelente matéria publicada por uma das revistas de fim de semana do diário espanhol El Mundo sobre o estado em que se encontra a imprensa em papel em Espanha e no resto do planeta...

Novas formas de fazer o melhor jornalismo: nesta série de podcasts do Washington Post, o ouvinte acompanha a História dos Presidentes dos EUA – e ao fazê-lo percebe melhor o estado a que se chegou para os americanos terem Donald Trump na Casa Branca.

Ainda que politicamente alinhado, o “caso” do jornal digital El Español, criado e liderado por Pedro J. Ramirez, fundador e ex-director do El Mundo, é inspirador do jornalismo sem papel impresso. Poder-se-á dizer (e eu digo...): não é a mesma coisa. Mas já é qualquer coisa...

(Artigo corrigido às 19h25: Alteração de Washington Times para Washington Post)