Começou por ser uma celebração, com muito ácido, do culto da felicidade, do comunitarismo, do amor livre, do pacifismo e da fraternidade. Todos com cores vivas, flores no cabelo e uma estética que abalou os códigos da indumentária, com tecidos indianos, mangas muito largas e calças à boca de sino. Nos meses seguintes, a cidade mais marcante da Califórnia tornou-se o epicentro da revolução hippie e da contracultura associada, com reivindicações políticas e sociais.

Os relatos desse verão do amor, de 1967, contrapõem registos generosos de um paraíso idílico e utópico frente a testemunhos impiedosos de loucura de uma geração alucinada de jovens fora do sistema. Com histórias de muitas trips multissensoriais.

O que é facto é que no começo desse verão de 1967, uns 100 mil jovens dos campus universitários, quase todos nascidos nas classes médias dos Estados Unidos, desembarcaram em San Francisco impulsionados pela ânsia desse movimento sociocultural. Tinham em comum a rejeição total da guerra que estava em curso no Vietname e que levava tantas vidas de gente como eles. Também contestavam o modo de vida conservador dos pais e o que aparecia nos slogans como “sociedade de consumo” .

Allen Ginsberg, que em 1965 tinha teorizado em livro sobre o potencial das flores para esbater os ímpetos violentos, liderou na primavera de 67 a tentativa de federação de diferentes tribos contestatárias: de veteranos da cena beat lançada por Kerouac, aos hippies de San Francisco, passando pelos ativistas contra a guerra. O campus da universidade de Berkeley foi o lugar central do movimento, mas a locomotiva acabou por estar a uns 150 quilómetros para sul, no festival internacional de música pop de Monterey, que entre 14 e 16 de junho juntou um cartaz de músicos venerados, Jimi Hendrix, The Who, Janis Joplin, Otis Redding, Ravi Shankar, entre tantos outros. Todos atuaram de borla. O festival, com mais de 100 mil pessoas, foi aclamado como prodígio de organização e de cooperação. Foi o primeiro festival musical a marcar as ideias da contracultura que crescia. Inspirou Woodstock. Foi o ponto de partida para o summer of love.

Esta geração do verão do amor reivindica ter feito cair um presidente dos Estados Unidos (Nixon, com o Watergate, em 74), e ter lançado a grande onda de movimentos pela liberdade de expressão, pela ecologia e pelo feminismo. Tornou-se claro que há mais a fazer do que passar o dia num escritório.

O summer of love de 67, então, atravessou o Atlântico e explodiu no Maio de 68 em Paris.

Agora, 50 anos depois, a Califórnia continua a ser um bastião da contestação. O alvo principal, agora, é Trump.

Neste verão de 2017, depois de anos de depressão, sente-se que o tempo está a ficar melhor na Europa: é a economia que dá sinais de fôlego e é sobretudo o estado de ânimo dos cidadãos. Ressurge, popular e apoiada em votos, com grande mérito do vigor de Macron, aliado com Merkel que aparece estadista, a ideia de Europa integrada.

Sente-se uma atmosfera democrática de evolução. Surgem várias questões: Os eixos do confronto político estão a mudar? Faz sentido continuar a assentar as diferenças políticas basicamente no binómio esquerda-direita? A recusa do establishment ou do sistema que se tem visto em sucessivas eleições vai ter conteúdo?

Sente-se que agora é a crise quem entra em crise e que há novo crédito para a cidadania, conquistado pelos cidadãos. Talvez Trump tenha o efeito de vacina.

Também a ter em conta:

“O pânico matou aquelas pessoas”: a tragédia portuguesa com o fogo contada assim, hoje, no The New York Times.

O que é que estamos a fazer às abelhas?

A mais recente crise no Golfo Pérsico tem mesmo a Al Jazeera como principal alvo da batalha.

Há uma nova corrida eleitoral na Europa: arrancou a campanha para as eleições de 24 de Setembro na Alemanha. A tarefa de Martin Schulz na liderança do SPD nos próximos três meses vai ser árdua, quando Merkel parte com 15 pontos percentuais de avanço.

É agora que Temer cai da presidência do Brasil ou vai conseguir continuar a escapar-se à destituição? O procurador geral, Rodrigo Janot, acusa Temer de corrupção em casos com milhões no bolso. As primeiras páginas de hoje no Brasil parecem indiciar o fim próximo para a presidência Temer: assim, no Globo, no Estadão, e também na capa da Veja