Confesso que senti alguma emoção. Humberto Delgado não é do meu tempo, só o conheço pela campanha que o notabilizou (e matou…), mas esta nova designação da Portela consagra algo que sempre defendi: os nomes que as ruas, as praças, os edifícios, ostentam, não são meros carimbos evocativos - são formas de perpetuar aqueles cuja vida nos deve orgulhar na identidade, na ética, na forma como deram o seu melhor pela comunidade. Gosto de saber quem foi a pessoa que convocou o nome de uma rua ou avenida. Por que motivo uma rua se chama assim ou assado.

Uma vez escrevi sobre este tema - quando, num táxi, fui surpreendido com uma memória que provavelmente se apagaria se não houvesse uma rua com o seu nome: ouvi uma chamada de um cliente para a Rua Helena Vaz da Silva. Esse aparentemente banal e corriqueiro acto levou-me a recordar a grande mulher do Centro Nacional de Cultura. E a falta que nos faz. É para isso que servem os nomes das ruas e dos edifícios: para que nunca esqueçamos aqueles que marcaram um tempo - mas cujo correr dos dias, pela sua natureza, se encarrega de esfumar, na memória e tantas vezes, por essa via, na importância.

No caso de Humberto Delgado, juntam-se dois factores relevantes para que o principal Aeroporto português tenha o seu nome: não apenas foi um dos ícones da oposição ao regime ditatorial de Salazar, como foi um dos pioneiros da aviação civil nacional, presidindo à fundação da TAP, em 1945, e definindo os seus contornos iniciais. Claro que o seu nome chega aos dias de hoje pela "ousadia" de ser candidato presidencial de oposição a Américo Tomás, em 1958, e pela coragem de, à pergunta sobre que destino daria a Salazar, caso fosse eleito, ter "criado" o primeiro soundbyte do século XX português: "Obviamente, demito-o!". Ficou conhecido pelo nome de "General Sem Medo", o que lhe custou a vida. A polícia política de então, a PIDE, percebeu nesse momento o que havia a fazer: eliminá-lo. Fê-lo em 1965.

Cinquenta anos depois, faz-se justiça ao General Humberto Delgado - e agora, para todo o sempre, quando um avião aterra na Portela, o seu nome é dito, e por muitos recordado. Mais do que aulas de História ou museus adormecidos, é desta forma que perpetuamos os que merecem esse reconhecimento. É raro, mas aconteceu: foi com um sorriso de felicidade e comoção que voltei a Lisboa na terça-feira.

UMA SEMANA MARCADA POR…

Em 2012, um pequeno grupo de humoristas brasileiros criou o conceito "Porta dos Fundos", pequenos videos de humor no You Tube. O sucesso foi de tal forma grandioso que hoje o grupo está presente no canal de TV Fox e tem um filme em estreia, "Contrato Vitalício". Mal comparado, é o Gato Fedorento do Brasil…

Um dos seus elementos, Gregório Duvivier, anda por cá com o monólogo "Uma noite na Lua", uma peça que Duvivier recuperou em 2012. O actor é um dos muitos críticos do impeachment da presidente do Brasil, Dilma Roussef. Numa entrevista ao nosso Diário de Notícias, foi claro: "Me apavora o Temer. Porque além de corrupto é conservador e autoritário". Duvivier pode ser visto ao vivo até dia 22 em Lisboa, e depois em Matosinhos (24), Braga (25), Porto (26), Póvoa do Varzim (27), Ourém (28), Sintra (2 de junho), Oliveira de Azeméis (dia 3), Coimbra (4) e Castelo Branco (5).

"Apoio Hillary Clinton para presidente. Ela é a segunda pior coisa que poderia acontecer na América" - o começo promete. E o meu Vasco Pulido Valente americano é mesmo o jornalista e escritor P.J. O"Rourke, que podemos ler no The Daily Beast. O mais recente artigo é mesmo sobre o confronto Trump Vs Clinton. Imperdível.

"Thrown Under the Omnibus" é o seu último livro, de 2015, uma antologia das melhores reportagens e crónicas de imprensa.

Repentinamente, o Facebook entra no alinhamento noticioso pelas piores razões: será verdade que o nosso feed de notícia tem uma agenda política e social próprias? Há uma espécie de "livrinho vermelho" - ou negro, ou apenas cinzento - sobre a hierarquia das noticias que entram na rede? As revelações não param, como se pode ler aqui.