Foi assim que tive a oportunidade de partilhar com os residentes do campo e outros voluntários uma noite diferente do normal e de assistir a momentos de puro convívio e descontração ao som de música árabe, africana e de alguns hits bem populares como a “Macarena”.

Essencialmente, são quatro horas onde todos esquecem, por instantes, a situação em que se encontram, a ansiedade da espera e as dúvidas do futuro. São quatro horas em que se estreitam laços entre os residentes do campo, em que se partilham estados de espírito e, se me permitem, são quatro horas de “paz” que só a música consegue transmitir. E a verdade é que o Homem, em qualquer época e em qualquer cultura, fez e faz uso da música enquanto forma de expressão.

Detive-me, por momentos, num canto da sala a observar com atenção a dança que um grupo de homens ensaiava no centro, no brilho dos seus olhos e na alegria que, até então, ainda não tinha observado desde que iniciei o meu trabalho enquanto voluntário no campo de Kara Tepe. Lembrei-me como, também eu, enquanto músico, esqueço por momentos tudo o que me rodeia quando estou a tocar com a minha banda e os meus olhos se enchem de brilho. Mas o brilho que vi nos olhos daqueles homens era um brilho diferente, era um brilho de esperança, um brilho de quem após ter passado por tantas histórias via naquela dança o desejo de uma vida melhor.

Por diversas vezes, em conversa com amigos ou nos bancos da faculdade, demos conta da importância da arte na intervenção social, por ser um mecanismo de cidadania e de inclusão mas, acima de tudo, por ser um meio de promoção da auto-estima de pessoas que se encontram há meses num campo com fracas condições e com uma vida em suspenso. Felizmente, tenho constatado que são várias as organizações presentes no campo que usam a arte como forma de expressão e fazem dela o centro do seu trabalho, desde a música, à dança, passando pela pintura e pelo teatro, ajudando a atenuar sentimentos negativos e depressivos, para quem procura, constantemente, visões otimistas em relação a um futuro incerto.

Afonso Borga tem 22 anos, é licenciado em Serviço Social e apaixonado por causas humanitárias. Durante os meses de agosto e setembro, e após outras experiências de voluntariado, estará num campo de refugiados em Lesbos (Grécia) com a ERCI, uma ONG grega, e irá relatar ao SAPO 24 essa experiência através de crónicas que poderá ler aqui.

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