Novembro de 2017. Tudo começou na Web Summit literalmente a olhar para os pés. Milhares e milhares de participantes a andar de um lado para o outro entre a FIL e a Altice Arena e em vez da monotonia de sapatos escuros e meias a conduzir eis que se cruzavam passos e passos em cores garridas e motivos divertidos. Gonçalo Henrique, fundador da Heel Tread em conjunto com João Simões, percebeu assim que estava ali uma nova tendência.

Janeiro de 2018. A Heel Tread é uma das startups que a Startup Lisboa convidou para levar à conferência e-commerce connect, que teve lugar no Hotel Tryp em Lisboa. Perante uma plateia de cerca de 200 pessoas, Gonçalo Henrique pergunta: "quantas pessoas estão a usar gravata". Timidamente levantam-se duas ou três mãos, não mais. O fundador da Heel Tread dá voz à constatação: as gravatas estão em dificuldades.

É um facto. O adereço masculino que há 10 anos representava o grito de rebeldia de tantos quadros obrigados ao fato completo e sapato a condizer de segunda a sexta-feira, é hoje um objeto em desuso e quase um símbolo de um certo desafazamento com uma sociedade que se quer cool, descontraída e, já agora, colorida. O que não significa que os mesmos quadros que enchem escritórios de grandes empresas e de novas startups, engenheiros, gestores, advogados e tantas outras profissões não mantenham essa necessidade de rebeldia - aliás, porque vivem numa era tão cool, a necessidade é ainda maior.

É aqui que entram as meias. As brancas, já se sabe, não se recomendam (e ainda assim, dêem-lhes um tempo e esperem o coming back), mas porquê só azuis, pretos ou qauanto muito cinzentas? Nasceu assim uma empresa que vende rebeldia e originalidade em forma de meias. "Em Sillycon Valley, as meias coloridas são consideradas como um troféu - uma espécie de declaração de libertação da vida corporate", comenta Gonçalo Henrique.

"Em Sillycon Valley, as meias coloridas são consideradas como um troféu - uma espécie de declaração de libertação da vida corporate"

Entre novembro e dezembro de 2017, Gonçalo Henrique não parou. Começou por pesquisar a concorrência e descobrir que na sua maioria as meias coloridas eram também meias com bonecos. Em conjunto com a agência com quem trabalhou na criação da marca chegou assim a uma primeira premissa: "o nosso objetivo era criar meias giras sem bonecos".

Sem bonecos mas então com quê? "Sou um apaixonado por carros, motas e aviões e daí surgiu a inspiração da nossa primeira coleção que usou como motivo 20 carros icónicos". Usar como inspiração, não significa usar " bonecos" mas sim motivos e padrões, como aliás se pode constatar pelo catálogo da Heel Tread.

A primeira coleção teve assim como musas inspiradoras modelos como o Ferrari GTO, o Lamborhini Miura, o Jaguar E-type e o Ford Mustang. As próximas podem ter motivos de cozinha - como facas -, ou de música ou de viagens. Certo é que não terão mais flamingos estafados como motivo de padrão. Mas a cor, a cor está certamente lá e os homens estão a gostar cada vez mais da ideia.

Apesar da história da empresa ser recente, já houve tempo para um primeiro desaire - como aliás assenta bem na narrativa de uma startup. Aconteceu com o crowdfunding lançado na plataforma IndieGogo com o qual pretendiam conseguir 10 mil euros, não tendo passado além dos 2 mil euros. "Percebemos que para ter sucesso nestas plataformas também preciso investir e fomos à procura de alternativas".

E para uma empresa que produz meias, uma alternativa natural são lojas onde se vendem meias. Que foi o que fizeram os dois sócios. "Da minha experiência anterior como sócio da Undandy sabia que vender só online é muito complicado. E as meias são um produto que as pessoas gostam de poder tocar, perceber a qualidade". Começaram por duas primeiras lojas, já estão em dez e o plano é aumentar o número de pontos de venda, nomeadamente em sapatarias e lojas de artigos para homem.

As meias da Heel Tread são um produto made in Portugal. Claro. Ou não fosse Portugal um dos maiores produtores de meias, para sermos mais precisos o terceiro maior produtor mundial atrás da Turquia e da China. Gonçalo bateu à porta de várias fábricas até encontrar o parceiro que aceitasse produzir numa escala mais reduzida. "Muitos diziam-nos que sim mas se fosse para uma escala de pelo menos 20 mil, mas depois de vários contatos encontrámos quem se ajustasse aos nossos objetivos".

Os dois sócios da Heel Tread antecipam um 2018 trabalhoso. Querem chegar a várias frentes e uma das principais é a internacional. "Lisboa é o nosso teste, mas queremos ir para fora de Portugal o mais rapidamente e vender em toda a Europa", afirma Gonçalo Henrique. Online já vendem para 10 países.

2018 será também o ano para procurarem investimento que ajudem nesta escalada internacional, preferencialmente com investidores que além de dinheiro possam ajudar na estratégia de distribuição. A fasquia está alta: querem vender 25 mil pares de meias, os mesmo é dizer que 250 mil euros (já que cada par custa 10 euros). Isto sem nunca perder o factor que os distingue: "Há quatro grandes players internacionais e nenhum está no nosso nicho". Qual nicho? "Dos que fazem meias giras sem bonecos".

Em breve, vamos ouvir a Heel Tread no The Next Big Idea. Até lá, continuamos a ter indícios que a empresa identificou mesmo uma tendência. Senão veja-se a foto que correu mundo de um dos mais cobiçados cavalheiros da atualidade, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, em Davos.


The Next Big Idea é um site de inovação e empreendedorismo, com a mais completa base de dados de startups e incubadoras do país. Aqui encontra as histórias e os protagonistas que constroem o Portugal de amanhã.

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