"Nós não fizemos qualquer trabalho com a Rússia nesta eleição. Mais: nós nunca iríamos trabalhar com um ator estatal, uma terceira parte, nas eleições [dos EUA]", disse hoje Alexander Nix, numa entrevista no palco central da cimeira tecnológica Web Summit, a decorrer em Lisboa.

O responsável da Cambridge Analytica - empresa que também trabalhou na campanha do "Brexit" pelo lado vencedor, que queria a saída do Reino Unido da União Europeia - considerou "ridícula" a ideia de que a Rússia influenciou o resultado da eleição de Trump.

"Mas há um ponto igualmente relevante: a ideia de que os russos interferiram de forma significativa nesta eleição e que conseguiram construir com êxito operações de dados e operações de análise [de dados] é francamente absurda. Inconcebível", disse Nix.

A Cambridge, explicou, "levou anos a construir os seus ativos de dados e anos a desenvolver os seus modelos".

"Pensar que os russos, ou qualquer outro país, poderiam replicar este nível de tecnologia, conhecimento e entendimento - em questão de meses - é um disparate", realçou o CEO da empresa.

Alexander Nix adiantou que a Cambridge começou a trabalhar em campanhas eleitorais em 1994, tendo trabalhado em cerca de 200 campanhas nacionais, ou seja "para primeiro-ministro ou presidente" em todo o mundo.

Destas 200, em 30 delas a empresa fez tudo: "pesquisa, sondagens, estratégia, dados, análise de dados, media, envolvimento".

"Nas eleições em que trabalhamos sozinhos, ou seja, em que fizemos tudo sozinhos até há dois anos tínhamos uma média de 100 por cento. Mas essas foram 30 das 200. A maioria das campanhas fazemos apenas um desses aspetos", explicou o responsável.

Ainda assim, mesmo nas campanhas em que a empresa apenas participa num aspeto, a taxa de êxito é superior a 50%, disse Alexander Nix, recusando que a Cambridge Analytica seja "uma empresa política".

"Somos uma empresa tecnológica. Fizemos algumas campanhas no centro-esquerda e outras no centro-direita. (?). Mas só trabalhamos para partidos ‘mainstream', não trabalhamos para partidos das margens ou afiliações mais pequenas", disse Nix.

A razão é simples: a Cambridge avalia "o impacto que determinada campanha terá no restante trabalho do grupo", uma vez que "as campanhas políticas só representam 25% do trabalho do grupo".

Na prática, a Cambridge Analytica trabalha a comunicação adaptando-a a alvos específicos, canalizando mensagens cada vez mais personalizadas aos eleitores.

"A comunicação está, fundamentalmente, a mudar e a comunicação política também. A ideia dos anúncios tipo cobertor, no qual centenas, milhares ou milhões de pessoas recebem a mesma mensagem, o mesmo ‘slogan’, foi substituída por uma comunicação mais personalizada, mais granulada", considerou.

Por isso mesmo, a "análise de dados políticos está a usar o ‘big data’ e um sistema de alvos e tecnologia de anúncio para enviar mensagens cada vez mais relevantes para a audiência certa, no tempo certo".

Questionado sobre se os dados que a empresa detém dos eleitores é perigosa, Alexander Nix disse que as pessoas entregam voluntariamente, nas redes sociais, informação pessoal muito mais prejudicial.

"Acho que a maioria das pessoas entrega voluntariamente mais dados nas redes sociais - francamente mais prejudiciais - do que alguma coisa que nos tenhamos. Os dados que temos são bastante benignos: que tipo de carro tens, que revistas lês, que cereais comes ao pequeno-almoço, não é propriamente intrusivo", concluiu.

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