Se parar é morrer, então o próximo passo para as lojas é digitalizar. “Há dez anos, o que estava a criar disrupção na indústria eram as empresas capazes de praticar preços mais baixos e que estavam a entrar no mercado. Agora, o desafio é digital. Hoje tens lojas online onde consegues encontrar quase tudo o que procuras”, diz Sebastian Campos Groth, responsável por gerir um programa de startups vocacionado para o retalho.

Sebastian e Alexander Hafner trabalham ambos na Techstar, uma empresa cuja missão é "acelerar" o negócio de startups. Em Berlim, depois de andar por toda a Europa à procura de boas ideias, a equipa da Techstar desenvolveu um programa dedicado ao retalho com o apoio da METRO, a oitava maior retalhista do mundo. Apenas nove startups - de Israel à Turquia, passando pela Lituânia, por Espanha e Portugal - foram escolhidas. De Lisboa para a capital germânica “voaram” a Sensefinity e a Sensei.

Com abordagens completamente distintas, todos estes projetos têm um objetivo comum: equilibrar o campo de batalha e dar às empresas offline as mesmas armas que têm hoje gigantes do retalho como a Amazon. E, no final do dia, tem tudo a ver com dados, porque, literalmente, informação é poder.

“Tenho idade suficiente para me lembrar de um mundo sem telemóveis, onde não era possível em tempo real e em qualquer lugar escolher o que comprar, onde comprar e como comprar. É bom que o futuro nos tenha trazido isso [enquanto consumidores], mas é importante para os retalhistas garantir que fazem parte desse diálogo com os clientes”, explica Andreas Wurfel, responsável de Inovação na METRO.

Ligar startups a empresas que são líderes nas suas indústrias é algo que Alexander Hafner, diretor deste programa de aceleração para o retalho, considera um “perfect fit”, um encaixe perfeito. “O retalho está a mudar e não é do lado das grandes empresas da indústria, é nas mentes dos jovens empreendedores que decidem em determinado momento que têm mais que fazer e exigem fazer compras com o menor esforço possível”, diz Alexander.

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“As startups estão numa situação única, porque têm um pé dentro do nosso negócio e um pé fora. Elas podem antecipar tendências e moldar tendências, algo que se és uma empresa grande terás mais dificuldade em conseguir. Então, a inovação exterior é o que estamos a tentar promover com estes programas, para preparar a indústria [do retalho] para a próxima geração”, diz Andreas Wurfel.

Depois de três meses de aceleração em Berlim, onde estas empresas conheceram uma centena de mentores, tiveram oportunidade de experimentar as suas tecnologias no terreno e treinaram vezes sem conta a melhor maneira de apresentar e “vender” o seu projeto, estas são as suas propostas para revolucionar a indústria do retalho.

Câmaras de filmar inteligentes

Cerca de 90% do consumo acontece no mundo real e não através de um ecrã de computador ou tablet. No entanto, os retalhistas convencionais não sabem muito sobre o que se passa nas suas lojas. Conseguem controlar inventário e vendas, mas existem inúmeros “ângulos mortos” no seu negócio. Como é que os clientes se movimentam pela loja? Quais são os produtos que captam mais a sua atenção? Onde passam mais tempo? Que corredores evitam? Quantos saem de mãos vazias e porquê? Esta é a resposta da portuguesa Sensei.

Não leve 2 pelo preço de 1. Faça “snap”

Lançar e executar uma campanha promocional leva atualmente entre 6 a 8 semanas e o mais habitual é fazerem-se descontos diretos, adotar o tradicional “leve 2 pague 1” ou oferecer uma maior quantidade de produto pelo mesmo preço. O facto é que ao fazer este tipo de promoções, o retalhista está a ganhar menos dinheiro e, ao mesmo tempo, está a diminuir a perceção de valor do produto. Ahmet e Halil têm uma proposta alternativa, capaz de criar uma ligação emocional com o consumidor sem prejudicar os preços. Para esta dupla de empreendedores a solução para o problema passa por mudar não só o tipo de ofertas que se faz, como pela forma como se faz. Como? Justsnap!

Em busca da verdadeira voz do cliente

Se o cliente tem sempre razão, o melhor será mesmo saber - ou se possível antecipar - o que pensa sobre determinado produto ou serviço. E se em tempos isto obrigava a conduzir um estudo de mercado abrangente - e, consequentemente, caro - e esperar pelos resultados, que poderiam chegar tarde de mais, hoje a Internet é um imenso livro de reclamações, críticas, descrições, avaliações e preços. E não só permite avaliar o desempenho dos nossos produtos e serviços, como também monitorizar a concorrência. O problema? Reunir toda esta informação dispersa e analisá-la de forma rápida e precisa. Qual problema? A Epinium tem uma solução.

Fazer compras através do Facebook Messenger com uma fotografia

Imagine que está a folhear uma revista e se cruza com aquele par de botas da nova estação, ou que está a percorrer o seu Instagram e descobre “aquele” casaco. Simples: tire uma fotografia, abra a página de Facebook da sua loja do costume e envie a imagem através do Facebook Messenger. Hoje, provavelmente, receberia uma mensagem padrão. Mas se a sua loja de sempre tiver instalada a tecnologia I am Bot poderá encontrar o que procura e finalizar a compra ali mesmo, numa conversa de chat. O comércio conversacional é a mais recente tendência e a I am Bot quer garantir que ninguém fica “fora de moda”.

Da padaria para o cliente. E se os produtos “falassem”?

Não há revolução sem comunicação, e o retalho não podia fugir à regra. A Sensefinity quer colocar produtos a “falar" com o processo logístico, desde a produção até ao armazenamento. Para isso, esta empresa portuguesa desenvolveu sensores capazes de medir temperatura, humidade, vibração e apontar uma localização. Além disso, todos os sensores comunicam entre si para garantir que o que chega à mesa do cliente tem o selo de qualidade que a sua marca representa, quer seja uma padaria ou um gigante do retalho mundial.

E tudo começou num camião que deitava gelados fora à beira da estrada

Cerca de 30% do que é produzido para consumo humano é desperdiçado, conta-nos Oljay, CEO e cofundador da Whole Surplus, uma plataforma de gestão de desperdício alimentar. Oljay quer ajudar empresas, pessoas carenciadas e o Planeta... tudo ao mesmo tempo, e com o maior retorno financeiro possível. 

Cozinhar com gosto (e sabendo à partida o que vamos gastar)

80% das pessoas diz que gosta de cozinhar, mas apenas 1/3 destas o faz regularmente. Provavelmente porque se perdeu nas milhares de receitas online sobre o melhor prato de pasta do ano; ou porque chegou tarde ao supermercado e não sabe para onde se virar. "O resultado mais provável é o de levar uma pizza congelada para casa ou fazer uma daquelas duas receitas que faz sempre", diz Eva, que se propõe resolver este problema com uma "deliciosa" app. A Kptn Cook sugere-lhe apenas três receitas saudáveis por dia, cria automaticamente uma lista de ingredientes e ainda compara os preços nos supermercados mais próximos de si. Infelizmente, por enquanto o serviço só está disponível na Alemanha, mas ficam as receitas.

mio. Vai uma piada e uma bebida gelada?

E se fosse abordado por um robô no meio da rua. Ele fala consigo, faz uma piada e acaba por lhe oferecer uma bebida fresca. Isto arrancar-lhe-ia um sorriso? 90% das pessoas que interagiram com o pequeno mio sorriram ao ver passar o simpático robô desta startup da Lituânia. mio é sobretudo uma plataforma de marketing e distribuição… para que não seja preciso atirar pessoas do Espaço para chamar à atenção, diz Roman.

Oriient. Nunca mais se sinta perdido

Já alguma vez se sentiu perdido dentro de um edifício. E quantas vezes olhou para um mapa sem conseguir tirar uma conclusão? A Oriient utiliza o campo magnético da Terra para criar um GPS que funciona dentro de casa, do museu, do aeroporto, do supermercado... as possibilidades são imensas. E como é que subitamente o campo magnético da Terra se transformou num produto de alta tecnologia? Tem tudo a ver com os sensores que hoje existem dentro do seu smartphone. O israelita Mickey explica tudo.

Todas estas ideias foram apresentadas e demonstradas num evento organizado no supermercado Markthalle Real, em Krefeld, na Alemanha, uma loja de bandeira onde o grupo METRO testa as mais diferentes tecnologias destinadas ao setor do retalho.

*Os jornalistas viajaram a Krefeld a convite do METRO Accelerator for Retail powered by Techstars