Não nos estamos a referir às belas nuvens que se apreciam das janelas do avião, quando vamos daqui para paragens mais macias. Nem à expressão “estar nas nuvens” que nos acontece quando não prestamos atenção à áspera realidade. Nem sequer àquele filme com o George Clooney em que ele ganha a vida a despedir pessoas.

Não. Estamos a referir-nos à “nuvem”, “the cloud”, essa abstracção informática que toda e qualquer pessoa sentada à frente dum computador utiliza, mesmo que não saiba. Chama-se “nuvem” não porque seja fofa e redondinha, mas porque esconde coisas. Como em “nevoeiro”.

Estranho, não é? Mas em informática há muitas coisas estranhas. Que não sabemos o que são, mas que precisamos de saber para que servem, porque nos servimos delas. O que não precisamos de saber, por exemplo, é que o termo é usado pelos maluquinhos dos computadores – os geeks – desde 1977, ainda a Internet não existia, tal como a conhecemos hoje.

Mas chega de conversa. Imagine uma biblioteca cheia de livros, folhetos, memórias descritivas, arquivos disto e daquilo. Quais livros? Todos. E que contem, além desses livros, folhetos, etc., os seus documentos, fotografias e tudo o mais que você produziu ou passou pela sua mão. Uma biblioteca gigantesca com tudo catalogado e que tem uma secção só com os seus papéis. Você vai à biblioteca e consulta a sua papelada, ou dá uma olhadela na papelada comum. Alguns documentos estão em estantes abertas, acessíveis a toda a gente, outros ficam em armários fechados e só podem ser vistos pelos seus proprietários, ou por quem os seus proprietários querem que veja. Isso é a nuvem.

Agora imagine que você tem dois computadores, um de secretária e outro portátil, ou tem um computador e um smartphone, ou um tablet. Como faria antigamente (“antigamente” quer dizer há dez anos) para partilhar a sua papelada entre esses vários aparelhos? Fazia uma cópia em disco, ou numa pen (isso já menos “antigamente”) e depois lia essa cópia no outro aparelho. Tinha de estar sempre a fazer cópias dum lado para o outro.

Nas grandes empresas, com centenas, milhares de computadores, era mais complicado, mas acabava por ser mais simples: havia um computador com grande capacidade que guardava os arquivos de todos os PCs e distribuía a informação. Foi assim que a nuvem começou a funcionar, como uma rede uns tantos computadores.

Isso era antigamente. Só as grandes empresas tinham as suas nuvens privadas. Mas as médias empresas também tinham arquivos para guardar e não podiam ou queriam investir em equipamento e instalações. Assim, pela ordem natural do empreendedorismo, houve quem se lembrasse de alugar espaço. Para quê investir a construir um grande armazém para o “arquivo morto”, se o podemos alugar?

À escala mundial, há grandes alugadores que talvez nunca tenha ouvido falar, como a Oracle ou a Centrilogic. E alguns que talvez utilize sem se aperceber, como a Google ou a PT. (Se está a ler isto, é porque acedeu à nuvem da PT.) Outros ainda que ninguém imagina que estão nesse negócio, como a Amazon ou a AT&T.

As próprias marcas de computadores também têm as suas nuvens, para que os utilizadores possam fazer a tal partilha entre os seus portáteis e smartphones. A Apple tem o iCloud, a Microsoft o OneDrive. Essas, você também usa sem saber. Ou pode inscrever-se e navegar em nuvens de terceiros, como a Dropbox ou a Evernote.

O negócio de alugar “espaço digital” é gigantesco. Não estamos a exagerar. As nuvens no mundo real são edifícios de dimensões piramidais (como as pirâmides do Egipto). Construídos em regiões remotas, porque ninguém precisa de lá ir, normalmente perto de rios, para a água arrefecer os equipamentos.

Gostaria de ver um desses edifícios? Não precisa de ir muito longe; na Covilhã fica um dos maiores do mundo. Na Covilhã, aqui tão perto.

Mas então, se não se paga para usar as nuvens, como é que o negócio é tão fabuloso? Agora já pode perceber porquê: as pessoas não pagam porque usam muito pouco espaço; as empresas, que precisam de muita armazenagem, e em duplicado (para ter cópias de segurança) pagam milhões de dólares, de euros, libras ou yuans pelo serviço. E os serviços públicos também. Imagine o espaço que a simpática Autoridade Tributária precisa para guardar as continhas de dez milhões de contribuintes! E, como se prevê que as necessidades de armazenamento cresçam exponencialmente nos próximos anos, a competição é enorme. Parece que a Amazon está a querer competir com a Oracle e a AT&T e portanto a baixar os preços.

Pois é, as nuvens do século XXI já não são redondas e cheias de anjinhos. A não ser que você os tenha no seu arquivo...