“Flick”. Em português significa qualquer coisa como “estalido”. Este é o nome da nova unidade de tempo criada pelo Facebook e que equivale a 1/705.600.000 de um segundo, maior que um nanossegundo e mais pequena que um microssegundo.

Depois de ter reinventado a forma como a parte das pessoas passa o seu tempo, a rede social criou a sua própria forma de o medir. É natural que a pergunta surja: mas porque é que o Facebook precisa de uma nova unidade de tempo? Não, a rede social mais popular do mundo não quer reinventar os relógios de sua casa ou que comece a dizer “Olhe estou 8 “flicks” atrasado e de metro ainda devo demorar uns 655 “flicks”, por isso não contes comigo antes dos 654 “flicks” para as três da tarde, ok?”.

A ideia é facilitar a vida às equipas de edição e pós produção de filmes e videojogos.

A criação é da autoria de Christopher Horvath, especialista em efeitos especiais e um homem que antes de chegar à empresa de Mark Zuckerberg passou pela Pixar, Weta Digital, e Industrial Light & Magic, e está diretamente ligada à nova ‘paixão’ do Facebook: a realidade virtual.

Em 2014 a Oculus VR foi comprada como subsidiária da rede social como demonstração de uma maior aposta no desenvolvimento da tecnologia de realidade virtual. Foi a oportunidade para Horvath trabalhar naquilo em que mais gostava e poder melhorá-lo.

O objetivo, como já dissemos, é facilitar. A nova unidade de tempo, podemos dizer, vai limar as casas decimais que podem ser pouco práticas para as equipas de pós-produção. Os filmes, por regra, funcionam a 24 frames por segundo. O que é que isto quer dizer? Que em cada segundo de um filme há 24 imagens estáticas. Cada frame demora 0.04166666667. O facto de o número ser impreciso e pouco prático, e ainda por cima ser utilizado de forma ambígua pelas equipas de edição, com umas a arredondar o número 0.042 segundos e outros 0.0417 segundos, é a razão pela qual foi criado o “flick”

O “flick” quer mudar estes números ao colocar um fim às casas decimais. Um filme feito a 24 frames por segundo tem, nesse mesmo segundo, 29.400.000 “flicks”, um número bem mais redondo. O mesmo se aplica, também, aos filmes de ação e videojogos - habitualmente feitos a 60 frames por segundo devido à necessidade de sincronização de efeitos especiais - que passam a ter um número bem mais prático, sendo que cada segundo desses filmes divide-se 11.760.000 “flicks”. O mesmo é regra para filmes que são feitos com outras medidas de frames e que são detalhadas numa tabela que Horvath publicou no GitHub numa nota em que apresenta a nova unidade de tempo por si concebida.

É tudo uma questão de dar um empurrão à matemática para esta dar números mais práticos ao invés de números que não reúnam unanimidade no momento de serem utilizados. Obviamente que nos dias que correm existem ferramentas que ajudam a sincronizar imagens geradas em computador com as imagens das filmagens, mas o Facebook pretende um sistema em que esses programas auxiliares não sejam necessários.

Para que esta unidade se venha a tornar norma no ramo da edição audiovisual, o Facebook lançou toda a documentação sobre o uso e criação de “flicks” em formato aberto para que qualquer pessoa possa descarregar e utilizar a unidade.

Esta não é a primeira vez que uma empresa privada tenta introduzir uma nova unidade de tempo como padrão no mundo. A 23 de outubro de 1998 a famosa marca de relógicos Swatch criou o Internet Time, uma medida que divide o dia em 1000 ‘beats’, sendo que cada ‘beat’ equivale a 1 minutos e 26.4 segundos. No entanto, esta foi uma medida que nunca chegou a entrar no nosso quotidiano.