“Portugal está numa situação única atualmente porque formalmente só há dois ou três países para onde se vai para fundar ‘startups’ (empresa de base tecnológica em fase de desenvolvimento): Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha”, comentou o responsável, em entrevista à agência Lusa, a propósito da comemoração oficial do 1.º ano da Startup Portugal, que se assinala hoje.

Contra a Alemanha está, nomeadamente, o excessivo custo de vida e dificuldades, pelo que “não oferece um ambiente muito rápido, flexível e barato”, já o Reino Unido enfrenta o “problema ‘Brexit (saída do país da União Europeia, na sequência de um referendo)”.

“Os Estados Unidos (EUA) têm muitos problemas, sobretudo têm um CEO [presidente executivo] terrível”, resumiu à Lusa o líder da estratégia do Governo para o empreendedorismo, numa referência ao Presidente dos EUA, Donald Trump.

E Portugal soma “positividade, entusiasmo” e até a Web Summit, conferência internacional de inovação e tecnologia, que este ano se realiza pela segunda vez no país, além de ser um destino pacifico e ter “o que todos sabemos: comida e sol”.

Por melhorar, acrescentou Simon Schaefer, estão processos de estabelecimento e o ritmo da burocracia, num país que contabiliza já mais de duas mil ‘startups’ incubadas.

Questionado sobre a comparação que se faz entre Lisboa e Berlim, habitualmente tida como capital europeia do empreendedorismo, o responsável admitiu que a cidade portuguesa está à frente da alemã, por ser “mais ‘cooler’ (mais ‘porreira’) e mais acessível”.

“Esta é uma janela temporal para a qual estamos a olhar e que devemos aproveitar, é a mais divertida e de trabalho difícil e árduo, mas há tanto para mudar e há tanto dinamismo”, comentou o responsável, prevendo que dentro de cinco anos se deve estar a apresentar um outro local perfeito para receber ‘startups’, porque Lisboa “cresceu muito e muito foi feito”.

Numa visão global, Simon Schaefer notou que a Europa está a perder para a China e Estados Unidos, pelo que o “potencial real” para o ‘velho continente’ seria criar “10 Berlim, 10 Lisboa e cinco Londres e conectá-las”.

O otimismo é afirmado no discurso do responsável, que nota a necessidade de se fazer mais, sublinhando, porém, que o Governo “tem feito o melhor que pode para o ecossistema” português: “criar entusiasmo em relação as ‘startups’, tecnologia e inovação.

Na burocracia haverá, porém, novidades, com a tradução para inglês de alguns documentos para facilitar o estabelecimento em Portugal de empresários estrangeiros.

A estratégia pensada para o segundo ano de existência vai centrar-se vai nos ‘pitch’, isto é, apresentações breves das empresas a investidores, assim como no trabalho para o aparecimento de zonas livres de tecnologia que permita reinterpretação das regras para empreendedores das áreas da condução autónoma, ‘drones’ e serviços financeiros.

À pergunta sobre se em Portugal há coragem para avançar para esses caminhos, o alemão recorreu a uma metáfora e recordou a “coragem de colocar pessoas num pequeno barco e viajar para locais onde ninguém tinha ido”.

“Está inscrita na cultura a vontade de explorar em Portugal”, disse o responsável, referindo ainda a necessidade de foco também no fracasso, uma situação que acontece em nove a cada 10 ‘startups’.