Contactado pela agência Lusa a propósito do aniversário do museu, a celebrar no domingo e a alargar-se ao fim de semana com entradas gratuitas, José Berardo admite que foi bom "concretizar este sonho" de disponibilizar ao público a coleção pessoal de arte.

"Era um sonho, e foi bom para ambas as partes concretizá-lo. Esta coleção é reconhecida a nível mundial. Juntou-se o útil ao agradável", assinalou o colecionador madeirense, que possui cinco museus no país e pretende abrir mais dois em Lisboa.

No entanto, José Berardo queixa-se de "falta de apoio político", ao longo destes dez anos de vida do museu, inaugurado a 25 de junho de 2007 no Centro Cultural de Belém, num projeto apadrinhado pelo então primeiro-ministro, José Sócrates.

"Durante dez anos, passei meses e meses a negociar o acordo com cada novo ministro ou secretário de Estado. E foram 12 ou 13", recordou à Lusa o colecionador, concluindo que esta "foi a parte mais complicada" para manter o museu.

O acordo de dez anos para cedência das obras - que terminava a 31 de dezembro de 2016 - foi renovado em novembro passado, por mais seis anos, passíveis de renovação, entre o colecionador e o Estado.

Assinado com o atual ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, foi exigida a cobrança de bilhetes a partir de 2017 como contributo para as despesas de manutenção do museu.

As entradas - livres até agora - passaram a custar cinco euros a 01 de maio, ficando o acesso gratuito reservado aos sábados e dias especiais, como o Dia Internacional dos Museus.

"Não estou contente com o novo acordo. Tive de ceder nalgumas coisas. Parece-me que não tenho grande apoio do Governo. Fico a pensar que eu sou uma espécie de ´patinho feio´ dos museus", ironizou.

O Museu Berardo abriu no Centro Cultural de Belém com um acervo inicial de 862 obras da coleção de arte do empresário José Berardo, na sequência de um acordo de dez anos assinado um ano antes com o Governo, na altura com Isabel Pires de Lima como ministra da Cultura.

As obras foram avaliadas em 316 milhões de euros pela leiloeira internacional Christie's, em 2016.

Sobre o futuro do projeto, José Berardo vai "pensar seriamente" se continuará a negociar com os Governos que virão.

"Estou com 73 anos. O trabalho e complicações que tenho tido com estas negociações do museu não quero deixar aos meus filhos. Preciso desse tempo para tratar de negócios", disse.

Sobre se este desapontamento significa o fim da continuação do acordo com o Estado, José Berardo não quis responder, preferindo focar-se na "celebração dos dez anos de sucesso" em Belém.

Mais de 7 milhões em 10 anos

Contactada pela agência Lusa para fazer o balanço em números de uma década de existência, a entidade estima que até domingo deverá contabilizar-se um total de 7.008.000 visitantes, desde a abertura, a 25 de junho de 2007.

Ainda segundo dados do museu, entre 01 de janeiro deste ano até dia 25 de junho, cerca de 367.000 pessoas terão visitado as exposições, sendo que 2016 foi o ano com mais entradas, somando mais de um milhão.

Quanto às exposições mais visitadas, lidera aquela que inaugurou o museu, com base na Coleção Berardo, com 456.347 visitantes, e as relativas também à Coleção Berardo (1900-1960), com 280.813 visitantes, e Coleção Berardo (1960-2010), com 259.545, realizadas em 2016.

Outras exposições que acolheram grandes números de público foram "Joana Vasconcelos – Sem Rede" (2010), com 167.852 entradas, "Your body is my body – O teu corpo é o meu corpo" (2016), com 144.830, "Amália – Coração Independente" (2010), que recebeu 105.485, ou "O Consumo Feliz", com 110.460 entradas.

Nas atividades do Serviço Educativo, o total de participantes desde a abertura do museu, até 31 de maio deste ano, cifrou-se em 490.639 pessoas.

O museu ocupa o 65.º lugar na lista dos 100 museus mais visitados do mundo em 2016 - o único em Portugal neste ´ranking´ - com 1.006.145 visitantes nesse ano, segundo o The Art Newspaper, publicação internacional especializada em arte contemporânea.

Aniversário com entradas gratuitas e várias iniciativas

O Museu Coleção Berardo celebra no domingo o 10.º aniversário com entradas gratuitas todo o fim de semana e uma programação especial de atividades para adultos e crianças,

De acordo com o museu, além das entradas gratuitas nas exposições, serão realizadas atividades especiais no espaço museológico, instalado no Centro Cultural de Belém desde junho de 2007.

"Espelhos Viajantes" é uma dessas atividades, com a proposta, ao visitante, de viajar no tempo, guardar imagens, e acrescentar memórias num percurso pelos espaços do museu.

Nesta atividade é proposto ao “espectador-viajante” que caminhe pelos espaços do museu recolhendo e guardando reflexos das obras de arte captados na superfície de um conjunto de espelhos acoplados ao corpo e fixados numa fotografia.

Outra atividade do programa especial de aniversário intitula-se "Revelar Enigmas” e parte de obras dos artistas presentes na exposição "Coleção Berardo 1960-2010", sobre a qual o público é desafiado a criar algo que facilite a reflexão sobre as questões levantadas pelo trabalho destes artistas.

Para crianças dos dois aos cinco anos, está prevista a atividade "Cozinh’arte", descrita pelo museu como "um momento performativo entre a cozinha de autor, e a fértil imaginação das crianças".

A atividade é feita por duas personagens que acreditam que tudo tem uma receita, e um "cozinhífrico", uma sofisticada máquina de preparação "de onde tudo pode sair", e uma bancada de trabalho.

Ali serão construídas criaturas que, quando viajarem para outros lugares, vão levar a história das obras de arte.

Também será realizado um percurso guiado pela exposição atualmente patente "Aprender a viver com o inimigo” de Pedro Neves Marques.

Esta exposição apresenta um conjunto de novos filmes que abordam "uma paisagem enraizada no contexto da extração de recursos naturais no Brasil e na coexistência entre diferentes cosmologias", segundo o museu.

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