"É o dobro do que paguei há dois anos. Lembro-me que levei a caixa de dois quilos a cinco euros e este ano estão a pedir dez, mas mesmo assim vou comprar. Afinal, vir aqui e não levar cereja é como ir a Roma e não ver o papa", sublinhou Bela Baltazar, que a agência Lusa encontrou junto à banca de Ascensão Morgado.

Uma banca que fica mesmo à entrada de Alcongosta, freguesia que todos os anos recebe esta festa que tem a particularidade de ser dinamizada pelos habitantes da localidade, que decoram as ruas das aldeias e transformam os pisos térreos das casas em tascas, restaurantes e lojas de produtos de artesanato.

À entrada da localidade, juntam-se-lhe várias as bancas de venda de cereja que, este ano, e apesar de todos os esforços para que a cereja não falte, se encontram ligeiramente mais despidas do que o habitual.

Enquanto fecha negócio com Bela Baltazar, Ascensão Morgado explica que a culpa é do mau tempo que este ano destruiu grande parte da produção de cereja nesta região, que concentra das maiores áreas de produção a nível nacional.

"O ano passado tínhamos aqui mais de três mil quilos de cereja para vender, este ano se conseguirmos apanhar mil será muito bom", aponta José João, explicando que o aumento do preço era "inevitável".

Julieta Nabais, que se divide entre a Tasca do Pincho e a banca onde está José João, junta-se à conversa para lembrar que o acréscimo em causa não dará sequer para fazer face aos prejuízos.

"No máximo dá para atenuar os custos da colheita, que estão a ser muito mais elevados porque sem fruta nas árvores demorámos o dobro do tempo a colher o pouco que encontramos", refere.

Argumentos que se repetem em todas as bancas e que os visitantes até admitem compreender, apesar de manterem as tentativas para conseguirem baixar o preço. É que, apesar das queixas, poucos são os que saem do certame sem uma ou até várias caixas de cereja.

Manuel Lírio, a residir em Ovar, já marca presença no certame há cinco anos. Não poupa elogios à festa e muito menos à qualidade da cereja do Fundão. Assim que chegou comprou 12 caixas de dois quilos, tantas quantas cabem na mala do carro.

"As outras coisas ter de ir à frente", referiu em tom brincadeira, mas antevendo mais algumas compras para além da fruta ao natural.

E nesse campo, este certame também não deixa créditos por mãos alheias, apresentando mil e uma iguarias" à base de cereja.

Dos tradicionais licores e compotas, às pataniscas de cereja, passando pelos travesseiros de cereja, pelos gelados de cereja, pelas espetadas de cereja de chocolate, pela sangria de cereja ou ainda pelo incontornável pastel de cereja, a oferta é variada e está sempre a crescer.

Nesta edição, juntou-lhe, por exemplo, a aguardente de cereja e o balsâmico de cereja, produtos que que foram apresentados pela primeira vez nesta festa e que estão prontos a ser introduzidos no mercado.

"Vamos para as lojas 'gourmet' e para espaços de referência, mas primeiro tínhamos de fazer a apresentação na nossa terra", referiu Luís Martins da Sabores da Gardunha, empresa que concebeu mais estes dois produtos e que tem sede exatamente em Alcongosta, a terra que por estes dias se transforma numa montra da cereja do Fundão e seus derivados.