Organizada pelo Grupo de Estudos Americanos do Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa (CEAUL/ULICES), em parceria com a Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), a iniciativa “Colóquio: Resistência Civil/Acordo com a Natureza – Bicentenário de Henry David Thoreau” inclui uma exposição, que estará patente de 10 de abril a 06 de maio, e um colóquio no dia 26 de abril.

Na segunda-feira, a exposição abre com uma visita comentada, duas palestras e um debate que encadeará os elos do ‘libertarismo’, da ecologia, da objeção de consciência e do estilo e influência do poeta e ensaísta.

No dia 26 de abril, haverá um colóquio com comunicações académicas, incluindo uma palestra por António Casado da Rocha, da Universidade do País Basco, especialista no pensamento de Henry David Thoreau, sobre a necessidade de “humanizar a ciência”.

Para finalizar o colóquio, serão feitas leituras da obra do autor, havendo ainda o lançamento de um catálogo e do livro “Nada Natural”, do poeta Gary Snyder, o grande herdeiro vivo de Thoreau, pela primeira vez editado em Portugal.

A Biblioteca Nacional, espaço onde decorrerão as iniciativas, considera “fazer hoje sentido redescobrir a obra de Thoreau, além dos seus textos mais conhecidos”.

De “Uma Semana nos Rios Concord e Merrimack”, primeira obra do autor, que será lançada em Portugal este ano, até “A Vida Sem Princípio”, publicada um ano após a sua morte, “Thoreau mostra-nos que ‘acordar com a natureza’ exige uma vigilância constante da nossa consciência individual enquanto cidadãos, recusando o crescimento económico desmesurado e os sectarismos e veleidades populistas”, segundo a BNP.

“No Bicentenário de Henry David Thoreau (1817-1862), encontramos o momento propício para refletir, por um lado, sobre a soberania individual e a vida frugal em acordo com a natureza, e, por outro, sobre o desafio às convenções vigentes, quando estas violam os princípios da liberdade para todos e da consciência de cada um”, acrescenta.

Em 1845, Thoreau construiu uma cabana à beira de um lago, onde permaneceu dois anos, dois meses e dois dias, contemplando a natureza e vivendo do cultivo da terra.

Desta experiência nasceu o livro “Walden” (1854), uma longa reflexão do autor sobre o conceito de natureza, enquanto descreve e advoga uma economia de autossuficiência.

Durante o período em que viveu junto ao lago Walden, Thoreau passou uma noite na prisão por ter sido o primeiro objetor fiscal da história: acreditando que o imposto sobre o direito de eleitor (‘poll tax’) era uma aberração que ajudava a sustentar a guerra contra o México e a escravatura, Thoreau recusou-se a pagá-lo.

Henry David Thoreau veio a defender a desobediência civil como modo de prevalência da razão das minorias sobre a prepotência das maiorias, num texto intitulado “Resistance to Civil Government” (1849).

Com o título “A Desobediência Civil”, a Editora Estúdios Cor publicou em Portugal o referido texto em 1972, data que assinala também a sua primeira edição em livro.

“Esta receção tardia não impediu que a influência de Thoreau tenha permeado o pensamento libertário e ecologista em Portugal, seja por via direta, seja pelo diálogo que com ele estabeleceram outros defensores da resistência não-violenta e do freio à expansão industrialista e corporativa, como Mahatma Gandhi, John Ruskin ou Lev Tolstói”.

A obra e o pensamento de Henry David Thoreau teve projeção também na arte contemporânea portuguesa, como é o caso de um disco que lhe é dedicado pelo músico Tiago Sousa, “Walden Pond’s Monk” (2011), a adaptação dos seus escritos para um filme, “Estrada de Palha” (2012), de Rodrigo Areias, e a transformação dos seus relatos e diários em trabalho fotográfico, de Rúben Neves, parte do qual se insere nesta exposição comemorativa.