"A ideia surgiu de forma espontânea, numa conversa de uma dúzia de pessoas das três freguesias que, habitualmente, frequentam o largo das Neves e que se predispuseram a realizar a iniciativa informal, de todos e para todos", disse hoje à agência Lusa, porta-voz do grupo Lenhadores do Largo, Luís Franco.

A "ideia espontânea" começou a "ganhar forma" e, com a designação Fogueira de Natal, vai realizar-se, pela primeira vez, a partir das 16:00 do dia 23 até às 04:00 do dia 24, no largo partilhado pelas freguesias de Barroselas, Mujães e Vila de Punhe, na margem esquerda do rio Lima.

"Nos dias que correm é cada vez mais difícil juntar as pessoas. O que pretendemos é que se reúnam à volta de fogo, como os nossos antepassados, para contar e criar histórias, estabelecer conversas adiadas e inacabadas, encontrar e confraternizar os conterrâneos da diáspora que regressam às origens, numa importante celebração de assembleia familiar, para matar saudades", adiantou Luís Franco.

O movimento cívico já conseguiu juntar "duas cargas de lenha de eucalipto" para garantir que a fogueira "arda, lentamente, durante 12 horas".

"Cada carga de lenha tem entre três a quatro toneladas. Foram árvores oferecidas pelo proprietário de um terreno local. Dez elementos do grupo foram ao monte recolhê-la e prepará-la", adiantou.

Uma das cargas será consumida na iniciativa e a receita da venda da segunda "reverterá para a comissão que organiza as Nossa Senhora das Neves", referiu.

O largo das Neves, local onde vai decorrer a primeira Fogueira de Natal, tem um "pedaço" de cada uma daquelas três freguesias.

É naquele espaço que foi construída, no início do século XVII, a Mesa dos Três Abades, iniciativa dos párocos de Vila de Punhe, Mujães e Barroselas, para assinalar o fim das discórdias em relação aos limites das três freguesias.

Ao longo dos anos, e numa altura em que eram os párocos quem mais ordenavam, a Mesa dos Três Abades assumiu-se como uma espécie de fórum popular, já que era ali que eram discutidos e tratados os assuntos de interesse da comunidade, do foro eclesiástico e do civil.

"Pelo seu passado e capacidade de reunião, é um espaço incomum de excelência que possibilita a preservação da cultura dos nossos antepassados, da nossa identidade e do que poderá ser transmitido às gerações vindouras", explicou Luís Franco.

À "assembleia comunitária" do Grupo de Lenhadores juntaram-se as autarquias de Mujães, Vila de Punhe e a União de Freguesias de Barroselas e Carvoeiro.

Quer seja pelo conforto do calor, como pela luz, o fogo, que este ano provocou imensas tragédias no país, durante imensos séculos e milénios também serviu para proteger, guiar e reunir as pessoas e definir famílias, comunidades e sociedades.

“A importância das fogueiras culturais, mesmo que desvalorizada na modernidade, tem imensos registos, até pré-históricos, que realçam a necessidade do humano individual se reunir, dialogar e refletir coletivamente. A tradição cristã, em várias comunidades, ainda preserva as fogueiras joaninas e natalícias, que correspondem aos solstícios de verão e de inverno", explicou.

A comissão de festas em honra de Nossa Senhora das Neves, o Núcleo Promotor do Auto da Floripes 5 de Agosto e a associação Padela Natural, também apoiam a organização do evento que está a ser promovido nas redes sociais.

"Se chover no dia 23, a iniciativa será adiada para o sábado seguinte, 30 de dezembro. Se a chuva persistir na segunda data, o evento será realizado no Natal do próximo ano", avisou Luís Franco.