A Audible, empresa que pertence à Amazon, lançou esta quinta-feira um podcast de seis episódios intitulado “Ponzi Supernova”, que retoma o escândalo financeiro relacionado com Bernard Madoff, que levou a que o mesmo tivesse de cumprir uma pena de 150 anos numa prisão da Carolina do Norte.

Bernie Madoff, como é conhecido, ficou famoso depois de ter sido preso em 2008 por ter gerado um esquema de Ponzi - também conhecido como esquema de pirâmide - de 65 mil milhões de dólares (61 mil milhões de euros). O esquema consistia no pagamento de lucros anormalmente altos a investidores à custa de investidores que chegavam posteriormente, em vez de receita gerada por qualquer negócio real.

Esta série, que acompanha a vida de Madoff na prisão e que se baseia em entrevistas extensas ao mesmo, analisa o papel que o sistema financeiro teve no esquema e como contribuiu para a sua manutenção durante mais de duas décadas. São destacados também os papéis da autoridade reguladora, o SEC, e do FBI, que apesar de terem bastantes provas circunstanciais e um whistleblower (denunciante) dentro do fundo de investimento do empresário americano, foram incapazes de o “apanhar” mais cedo.

Numa das entrevistas, o apresentador do podcast Steve Fishman - jornalista que acompanhou e conversou com Madoff durante vários anos - focou-se na questão dos remorsos. Questionou se, após oito anos na prisão, Bernie Madoff se sentia arrependido pelo número de pessoas e famílias que tinha roubado. Pelas suas respostas, a conclusão a que chegou foi a seguinte: “Ele tem uma relação equívoca com o remorso. Ele acha que ajudou muitas pessoas a lucrar com o que ele fazia e que acabou traído por elas. O seu remorso está mais ligado com a forma como destruiu a sua carreira e a sua família, e menos com o destino que a suas vítimas tiveram.”

Recorde-se que a fraude foi revelada depois de Madoff ter confessado aos seus filhos o que tinha feito e estes o terem denunciado por conselho do seu advogado. Após o julgamento, os dois filhos de Madoff faleceram. Um deles suicidou-se no segundo aniversário da prisão do pai, e o outro não sobreviveu a um linfoma, cujo agravamento atribuía ao stress causado pelo pai, visto que antes se encontrava em remissão.

Voltando ao podcast (exclusivamente em inglês) e à vida de Madoff na prisão, Fishman afirma que ele está perfeitamente integrado e que os restantes prisioneiros olham para ele como um herói por o considerarem o melhor ladrão da história.

Apesar de estar condenado a passar o resto da vida na prisão, Madoff parece não ter abandonado os seus instintos “empreendedores”.  O jornalista conta-nos num dos episódios a maneira como Bernie Madoff utilizou os seus conhecimentos para dominar o mercado do chocolate quente: “Ele comprou ao comissário todas as embalagens de Swiss Miss (marca de chocolate quente) e fez lucro ao vendê-las no pátio da prisão. Eventualmente, passou a monopolizar o chocolate quente ao ponto de obrigar qualquer pessoa que quisesse um a passar pelo Bernie.”

O caso de Madoff continua a ser uma das evidências mais claras e recentes das falhas do sistema financeiro e dos perigos do mercado de expectativas.