Em entrevista com a agência Lusa, no âmbito do encontro Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim, Vásquez confessou nunca ter sido um otimista, uma posição que considera ter sido corroborada pelo resultado no referendo de outubro, em que 50,2% dos votantes rejeitaram o acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC): “Não há otimismo que valha na história do meu país, onde uma pessoa tragicamente tem sempre o direito de esperar o pior”.

“Agora, o que é que acontece? Os acordos de paz começam a ser reais, a implementar-se, e isso está a acontecer com muitos problemas, muito imprevistos, pequenos ou não tanto, há muito que ajustar. O resultado geral parece-me positivo. Parece que isto se está a materializar. No hospital militar, o último soldado ferido teve alta há meses e agora as salas estão vazias. Isto é uma imagem que deve impressionar qualquer pessoa sensível”, afirmou Vásquez, que está a passar uma temporada a dar aulas na Suíça.

No entanto, há eleições presidenciais na Colômbia no próximo ano, o que leva o autor de “O barulho das coisas ao cair” a alertar para a possibilidade de os candidatos “mais céticos” do acordo de paz “utilizarem o tema para tirar ganhos políticos”.

“Sobretudo, o que temo é essa direita colombiana que vai tentar usar o descontentamento que muitos colombianos sentem para voltar ao poder como parte destes novos populismos de direita que estamos a ver por todo o mundo apoiados pelas mentiras, distorções e desinformação. E isso é assustador. Fizemos um imenso esforço para chegar a este ponto de terminação de um conflito de 50 anos ou mais, que causou tantas mortes e vítimas, e tudo isso poderá danificar-se nos próximos 18 meses se não agirmos corretamente nas próximas eleições”, declarou o escritor.

Para Vásquez, que acaba de lançar em Portugal “A forma das ruínas”, pela Alfaguara, a Colômbia está “perante uma oportunidade única de virar a página, de fechar um capítulo de violência mediante uns acordos de paz que são vistos como modelo, e representam um precedente usado noutros conflitos internacionais”.

“Em Havana estava a negociar-se o fim da guerra entre o Governo e a guerrilha das FARC, [mas] essa paz não era só sobre a guerrilha e o Governo. Era para terminar um conflito que também produziu o paramilitarismo - o fenómeno horrível do paramilitarismo, as piores violações dos direitos humanos - também era negociar o final de ciclos de violência que produziram quantidades imensas de deslocados”, declarou o escritor, já distinguido pela Casa da América Latina em Portugal com o prémio de melhor livro publicado em 2016, por “As reputações”.