Começando na quarta-feira, 10 de janeiro, com João Pedro Vaz, que estreia a obra em Portugal, o ciclo repete-se em cada dia 10 até ao final de 2018, sempre com um ator diferente, com nomes como Maria João Luís, Fernanda Lapa, Tiago Rodrigues, Ana Deus e Gonçalo Waddington, entre outros, no alinhamento, que irá sendo revelado ao longo do ano.

Em 2010, o autor, de 35 anos, estava impedido de sair do Irão por não ter cumprido as obrigações militares impostas, tendo escrito a peça para que esta pudesse ser apresentada em todo o mundo, por oposição à situação imposta ao dramaturgo e ator.

“Um texto que não precisa de cenário, nem de figurinos, nem de um elenco, nem de ensaios. Aliás, não pode ser ensaiado”, pode ler-se na apresentação da peça, em estreia nacional.

O texto só é entregue ao ator da noite em questão, quando este já se encontra em frente ao público, o que cria uma “partilha de poder, porque público e intérprete ouvem as instruções exatamente ao mesmo tempo”, disse à Lusa Vânia Rodrigues, da Mala Voadora.

Em 2013, Souleimanpour conseguiu ver em palco, pela primeira vez, a peça que escreveu, numa sala de Brisbane, na Austrália, depois de descobrir que um problema médico o isentava do serviço militar.

Apresentado em mais de 20 línguas diferentes, “White Rabbit, Red Rabbit” lançou Soleimanpour como dramaturgo, estando atualmente em digressão por vários países a apresentar “Nassim”, obra que surge dos mesmos ideais do primeiro trabalho.

“Adquirimos os direitos exclusivos para a peça, o que interessou bastante à produtora. (...) A lista de atores que já interpretaram a peça é impressionante. Era estranho que Portugal não fizesse parte dessa rota”, justificou Vânia Rodrigues, à Lusa.

Além da carga política do texto, que é “impossível não surgir ao público como reflexão, além da liberdade de expressão e condicionamento coletivo”, a peça tem ainda uma “carga emocional incrível”.

“Tem muito que ver com o sentido da presença dele, de o texto viajar. Ele pede para guardar sempre um lugar vazio para ele, e praticamente sente-se o autor ali. (...) Não há mediador nenhum, e mesmo o intérprete sabe tanto como nós. É aí que o poder começa a ser redistribuído”, acrescentou Vânia Rodrigues.

Um outro lado de interesse relaciona-se com a forma como cada ator enfrenta o mesmo texto, além da plateia em si, partindo do mesmo pressuposto, mas com “abordagens subjetivas a partir de algo aparentemente objetivo, as instruções”.

A peça inaugura “uma nova fase de programação da Mala Voadora”, no próprio espaço. “Vamos procurar que os projetos que vamos apresentar no espaço da rua do Almada dialoguem com os espetáculos que estamos a conceber nesse ano”, referiu.

A próxima peça da companhia, “Manual Sobre o Trabalho e a Felicidade”, foi concebida por Jorge Andrade, José Capela e o escritor catalão Pablo Gisbert, durante uma residência artística no L’arboreto – Teatro Dimora, na cidade italiana de Mondaino, de 01 a 11 de agosto de 2017.

Escrito em português e espanhol, traduzido para grego e italiano, o texto da peça também utiliza a ideia de construção teatral a partir de instruções pré-definidas, como “um manual do Ikea”, explicaram os criadores à Lusa, em 2017.

“Manual Sobre o Trabalho e a Felicidade” tem estreia marcada no Teatro de Patras, na Grécia, a 17 de março, antes de Portugal, onde será apresentada a 13 e 14 de abril, no Montijo, seguindo-se Alcobaça, em maio.

Regressa depois a Itália, para ser apresentada no festival Pergine Spettacolo Aperto, sendo que, em cada uma das cidades terá um elenco diferente, composto por amadores, com o objetivo de refletir a diferença de interpretações sobre as instruções para a construção da peça.

O “Manual sobre o Trabalho e a Felicidade”, que foi feito em parceria com a Artemrede, o L’Arboreto, o Pergine Spettacolo Aperto e o Teatro de Patras, será disponibilizado gratuitamente na Internet, para que “quem quiser” possa levar a palco uma produção, escolhendo “as partes que mais [lhe] interessam do texto”, podendo ainda utilizar “uns ‘kits’ de cenografia”.

Em 2017, José Capela e Jorge Andrade já tinham explicado à Lusa que a equipa da Mala Voadora tinha “repensado profundamente o modelo de acolhimento” para 2018.

Em fevereiro, a companhia organiza a quarta edição do ciclo "Uma Família Inglesa", dedicada ao teatro britânico. A programação já está fechada e será anunciada “dentro de duas semanas”.