Comecemos por um pouco de História, mas sem querer aborrecê-lo.

O espaço geográfico que vos relato tem sido ocupado desde os tempos pré-históricos e a própria aldeia vê as suas origens envoltas em lendas e mistérios. São milhares de anos documentados por variados vestígios, que vão desde os instrumentos líticos até aos monumentos megalíticos, aos objetos cerâmicos e de metal.

Em 1055, o rei Fernando Magno, de Leão, reconquistou-a aos mouros. Em consequência das investidas árabes, a vila de Numão ficou deserta e assim a encontraram o infante D. Afonso Henriques e sua mãe, Dª Teresa, que a doou a Fernão Mendes e seus filhos, sendo-lhe concedido, em 8 de julho de 1130, o primeiro foral.

Se procura coisas giras para visitar, está no sítio certo!

Sem pretender ser especialista na matéria, convido-o a entrar neste impressionante mundo de História e proponho guiá-lo neste museu aberto, merecedor de pausada e atenta visita.

No alto do monte assenta o castelo, verdadeiro ex-libris da aldeia, lugar aprazível sombreado por lindas amendoeiras, onde se ouve o chilrear dos passarinhos e se sente a bafagem suave do vento, harmonia da natureza, que quebra o silêncio daquela solidão, a qual parece encaminhar o espírito à contemplação das coisas celestes. O que mais deslumbra o espectador colocado no cimo das suas muralhas é o esplendoroso pôr-do-sol que se avista no Santuário de Nª Sª do Viso.

Numão
créditos: José Augusto Fonseca

Em dia de céu limpo, a enorme bola de fogo, de cores indescritíveis para a minha pena, vai-se afundando pouco a pouco na lonjura do horizonte, pelas quebradas da escarpa do monte, como se fora um navio louco a afundar os mastros na imensidão do mar.

O castelo, lançado em proa sobre o rio Douro, cuja origem se some nas trevas dos tempos que já lá vão há muito, protegia a primitiva população que vivia no seu interior. A prová-lo estão os mesquinhos restos de paredes desmanteladas que ainda hoje se veem e que na 2ª metade do séc. XVIII eram muitas casas e ruas. Pode-se ainda ver a cisterna e as ruínas da Igreja de Stª Maria, de raiz românica com siglas figurativas e alfabéticas no seu espelho, os extra-muros do castelo e, na vertente norte, deparamos com a milenar Capela de S. Pedro, mãe das igrejas numantinas, em ruínas, e da qual apenas existem três toscos muros, apresentando uma planta retangular.

Descendo a encosta sul, em direção ao Campelinho, vamos descobrir a Praça Fernão Mendes, onde poisa o busto do nosso aforador, cuja sombra e beleza convidam à paragem e ao descanso. No centro da povoação encontramos a Igreja Matriz dedicada a Nª Sª da Assunção, tendo sido construída nos finais do séc. XVI, aproveitando silhares provenientes do castelo. Para além desta igreja, existem ainda duas capelas: a de Stª Teresa, situada na rua Direita, pertença particular, datada de 1710, e a de Stª Eufémia, localizada no fim da avenida com o mesmo nome e construída provavelmente no séc. XVI.

Ainda de cariz religioso surgiu recentemente um nicho em louvor a Nª Sª da Assunção, orago da freguesia, feita em pedra granítica e com o poial de Nª Sª ladeado por vidro.

Quanto a pedras epigrafadas, sobressaem as que se encontram nos lugares do Areal, Telheira e Conde, cujas inscrições são, provavelmente, do período de ocupação romana. Não desmerecem a visita, também, as fontes de mergulho. São elas: a Fonte Grande, a Fonte dos Moleiros, a Fonte da Maúla e a Fonte do Campelinho, a qual anda ligada a lenda da Moura Encantada, onde Lira com a perna encetada lá ficou para sempre infeliz... E, por fim, caminhemos para mais longe e vamos até à Ribeira Teja onde vemos a Ponte Zaralhôa, vulgo ponte romana.

A este espólio edificado associa-se o que a natureza benfeitora nos doou, sobretudo nos meses de fevereiro e março em que a floração da amendoeira nos oferece um espetáculo inebriante. Nos lugares do Vesúvio e do Arnozelo, o rio Douro é duma beleza estonteante, sendo difícil transmitir as reais sensações que se podem usufruir perante aquela dádiva divina.

Vale a pena conhecer esta terra para se viver o deslumbramento das suas paisagens, se apreciar a beleza dos seus monumentos e sentir a vontade e franqueza das suas gentes.

Em suma, Numão é uma amálgama de História, romantismo e beleza.

Feito o convite, espero por vós!

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