A "novela" continua, mas parece próxima do fim. O quadro está perdido há mais de 70 anos. O neto do dono, Phillippe Maestracci, procurava reaver o quadro desde 2008, mas a história parecia não avançar nos tribunais. Maestracci, empresário agrícola de 71 anos, acusava a família Nahmad de guardar o quadro de forma ilegal, e a família negava.

Na semana passada, graças aos "Panama Papers" soube-se que o valioso quadro estava num armazém situado junto ao aeroporto de Genebra, zona isenta de taxas aduaneiras, onde também se encontrava uma coleção de 4500 peças da família Nahmad.

"Foi aberto um processo criminal após revelações ligadas aos 'Panama Papers', para efetuar buscas relativas à presença de uma pintura de Modigliani em Genebra", declarou o porta-voz do Poder Judiciário, Henri Della Casa. "A pintura foi apreendida durante o fim de semana nos portos francos de Genebra", indicou Della Casa à AFP. Os portos francos são espaços isentos de impostos.

O quadro em questão, do pintor italiano Amedeo Modigliani (1884-1920), cujas obras atingem valores recordes em leilões, é o "Homem Sentado com uma Bengala". A obra está avaliada em 22 milhões de euros, segundo a imprensa suíça. De acordo com a Mondex Corp, uma empresa canadiana especializada em encontrar obras roubadas, a pintura foi roubada pelos nazis ao avô de Maestracci, um colecionador de arte judeu que fugiu de Paris em 1939. O quadro acabou por ser adquirido em 1996 num leilão em Londres pela companhia offshore International Art Center (IAC), criada pelo escritório de advogados do Panamá, Mossack Fonsseca.

A famíla Nahmad, que construiu a sua fortuna com o comércio de arte, acabou por ser a principal suspeita de ser a proprietária da obra. A empresa Mondex abriu um processo no tribunal americano em 2011, em nome de Maestracci, para recuperar o Modigliani. A família Nahmad disse em tribunal não ser dona do quadro em questão e que o mesmo era propriedade da IAC.

No entanto, um documento publicado pelo jornal suíço Le Matin e pelo francês Le Monde na semana passada sobre os "Panama Papers" revela que a família Nahmad é a verdadeira dona da IAC. Neste sentido, a pintura seria propriedade de David Nahmad, visto ser ele atualmente o único acionista da IAC.

Entrevistado pela Radio-Canada, David Nahmad, também judeu, disse que jamais aceitaria ter uma obra de arte roubada pelos nazis. "Eu não conseguiria dormir à noite se soubesse que tinha um objeto roubado", comentou.