“Morreria por ti” reúne 18 textos inéditos do escritor norte-americano, autor também de “Terna é a Noite”, que devolvem um Fitzgerald “livre, em pleno fulgor criativo, liberto das amarras da censura e da esterilização narrativa imposta pelos seus editores”, diz a Alfaguara, chancela do grupo Penguin Random House, que publica o livro em Portugal cinco meses após a sua edição nos Estados Unidos.

São escritos que refletem o espírito do movimento a que Gertrude Stein chamou “geração perdida”, da qual Scott Fitzgerald foi uma das figuras cimeiras, a par de nomes como Ernest Hemingway, Ezra Pound, T. S. Eliot, William Faulkner ou Vladimir Nabokov.

Este conjunto de contos, agora vertidos num livro com 464 páginas e traduzidos por Vasco Gato, ficaram desconhecidos dos leitores por incompreensão dos editores da altura, esquecidos em arquivos de bibliotecas ou de coleções privadas, ou perdidos na tumultuosa vida do autor nos anos 1930.

Organizadas e preparadas pela editora Anne Margaret Daniel, estas narrativas revelam a “beleza e genialidade” de F. Scott Fitzgerald e exploram temas como os sonhos de glória e de êxito, a solidão das pessoas normais e das celebridades num mundo em crise, o meio do cinema e os seus costumes, a doença ou a loucura.

Estes temas, tratados de forma realista e inconformista, afastavam Fitzgerald daquilo que os editores esperavam dele: que fosse um escritor daquilo que ele próprio designou como “era do Jazz, que escrevesse romances normais, com rapazes pobres a cortejarem raparigas ricas, com festas e ‘glamour’ e raparigas fúteis, explica Anne Margaret Daniel na introdução do livro.

Anne Margaret Daniel refere que mesmo os diretores contemporâneos das revistas populares e de grande consumo da época “tinham bons motivos para se encolherem” perante o que Fitzgerald andava a escrever em meados da década de 1930: “Alguns dos contos são sombrios e desolados”.

Nesta época, os Estados Unidos viviam a Grande Depressão, o dinheiro do escritor esgotava-se, a sua mulher, Zelda, vítima de um esgotamento, passou a ser constantemente internada em clínicas privadas dispendiosas e o próprio escritor sofria de tuberculose e alcoolismo. Não obstante, nunca parou de escrever, procurando refletir o que sabia e via.

Anne Margaret Daniel escreve que “à medida que a década de 1930 ia avançando, porém, é com frequência que Fitzgerald recusava submeter-se às expectativas daqueles que ficavam surpreendidos ao descobrirem nele uma pincelada de realismo, ou um passo rumo à desolação e aos estilos irregulares do modernismo tardio, ou simplesmente algo que achassem feio”.

Quase todos os contos desta coletânea, “Morreria por ti e outras histórias esquecidas”, remontam a essa época e são os "últimos sobreviventes em que é possível determinar que Fitzgerald trabalhou", destaca a organizadora o livro, que incorporou as alterações feitas à mão pelo escritor em datiloscritos ou manuscritos, deixando entre parênteses as expressões e os passos riscados em revisões incompletas.

O livro inclui ainda um capítulo de notas explicativas - cuja intenção é situar o leitor e explicar o que Fitzgerald queria dizer -, porque muitas das coisas referidas nos contos decorreram quase há 100 anos (quando foram escritos os primeiros textos).

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