Tudo aconteceu quando chegou o momento de realizar uma cena que envolvia Uma Thurman a conduzir um automóvel, no México, em 2004. A atriz disse que não se sentia à vontade para guiar e sugeriu que fosse um duplo a fazer a cena. Contudo, confessa a atriz, Tarantino insistiu para que fosse ela a conduzir o veículo.

Durante a cena, Thurman acaba por ir contra uma árvore, acidente que lhe deixou lesões irreversíveis nos joelhos e pescoço. A explicação foi dada numa entrevista publicada na sexta-feira, dia 2 de fevereiro, no New York Times.

"O volante estava na minha barriga e as minhas pernas ficaram presas debaixo de mim. Tive uma discussão enorme com Quentin e acusei-o de me tentar matar", revelou.

Dois dias depois, a 5 de fevereiro, Uma Thurman, na sua conta pessoal do Instagram, fez uma publicação onde consta o vídeo do acidente. Adicionalmente, explica que este lhe foi facultado pelo próprio Tarantino, mas que o estúdio e os produtores de Kill Bill tudo tentaram fazer para o abafar.

"Tarantino ficou profundamente arrependido e continua a arrepender-se deste triste evento e deu-me as imagens anos mais tarde para que as pudesse expor e estas vissem a luz do dia — ainda que seja algo para o qual a justiça nunca será possível. Ele [Tarantino] fê-lo também tendo plena noção de que esta exposição lhe poderia causar danos pessoais e tenho orgulho dele por fazer o que é correto e pela sua coragem", escreveu.

Porém, a atriz acrescenta que o "encobrimento após este facto é imperdoável" e aponta como responsáveis os produtores Lawrence Bender, E. Bennett Walsh e Harvey Weinstein. Na sua opinião, estes "mentiram, destruíram provas e continuaram a mentir acerca dos danos permanentes que causaram e que tentaram abafar".

Ao Business Insider, vários produtores consideraram que a culpa era de Lawrence Bender, uma vez que a função do produtor executivo é a de mostrar ao realizador que a sua visão pode estar a prejudicar o elenco ou a dinâmica do filme.

"Nos meus ‘sets’, o realizador sabe que as filmagens não podem começar sem o produtor, e se eu soubesse que a Uma não se sentia à vontade para fazer a própria cena, eu teria intervindo para dizer ‘não significa não’ e teríamos usado um ator duplo”, disse a produtora Rebecca Green. "Nem Lawrence Bender estava lá, nem se importou com o que Uma sentia, ou então estava preocupado em não aborrecer Tarantino", finaliza.

Na entrevista dada ao The New York Times, Uma Thurman também acusa Harvey Weinstein de assédio sexual. Thurman confessa sentir-se "culpada" por não ter falado antes ("eu sou uma das razões pelas quais uma jovem voltou a entrar no quarto de Harvey sozinha, tal como eu fiz"), mas a sua decisão era remeter-se ao silêncio "até se sentir menos zangada".

A atriz conta que o primeiro caso de má conduta sexual com o produtor norte-americano ocorreu após o lançamento do clássico "Pulp Fiction", em 1994. Uma protagonizou e Weinstein coproduziu.

Segundo a atriz, aconteceu numa reunião no quarto de Hotel de Harvey, em Paris, França, onde estavam presentes mais pessoas. "Estavam a discutir sobre um guião quando ele tirou o robe. Não me senti ameaçada. Pensei que ele estava a ser bastante idiossincrático, como um tio excêntrico e estranho".

Contudo, a perceção de Thurman sobre Harvey começa a mudar quando o produtor pediu à atriz para o seguir até à sauna. "Eu estava ali vestida de ganga preta — botas, calças e casaco. Estava mesmo calor", disse. "Eu disse-lhe ‘isto é ridículo, o que estás a fazer?’ e ele ficou muito chateado, frustrado e saiu a correr”, acrescenta.

Dez anos depois aconteceu o episódio mais grave, na altura do lançamento do primeiro “Kill Bill": "Ele prendeu-me. Tentou deitar-se sobre mim. Tentou mostrar-se nu. Fez todo o tipo de coisas desagradáveis. Harvey assediou-me, mas isso não me matou", revelou.

Uma Thurman relatou também ao jornal que, quando tinha 16 anos, foi violada por um ator "20 anos mais velho". "Tentei dizer não, chorei, fiz tudo o que podia", revelou Thruman sem avançar com mais pormenores.

[Artigo revisto às 14:32]