Macron considera que este é o tempo de assumir a coragem de construir a paz e a coragem de assumir responsabilidades, dizendo que não basta “defender causas”, durante a sua intervenção no debate geral da 74.ª sessão da Assembleia-Geral da ONU, que começou hoje e decorre até 30 de setembro com a presença de cerca de 150 chefes de Estado e de Governo, incluindo do Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa.

“Temos conhecimento, temos financiamento, temos capacidade de inovação. Então o que é que nos falta?”, interrogou-se o Presidente francês, fazendo um diagnóstico dos riscos que se colocam a um mundo em “mudanças rápidas” e perante “desafios perigosos”.

“Falta-nos coragem! Muita! Muitas vezes!”, respondeu logo de seguida, dividindo o conceito em duas componentes: a coragem de construir a paz e a coragem da responsabilidade, explicando que ambas devem regressar ao espírito dos líderes mundiais.

De seguida, Macron aplicou o seu pressuposto a alguns desafios que identificou como urgentes, começando pela situação no Médio Oriente e referindo-se ao caso do Irão, dizendo que tem solução em três vertentes.

Em primeiro lugar, o Presidente da França defende que o Irão deve ser impedido de possuir armas nucleares; em segundo lugar, pede um plano de segurança regional; em terceiro lugar, e perante o assumir do compromisso por parte de Teerão, defende o levantamento das sanções económicas impostas pelos Estados Unidos.

Emmanuel Macron referiu-se a três outras regiões cujos riscos necessitam de “respostas de coragem” por parte da comunidade internacional, falando da Síria, da Líbia e do Sahel, onde pediu a intervenção da ONU e a participação de países das regiões, juntamente com estratégias de combate ao terrorismo.

O Presidente francês citou ainda o discurso do Presidente norte-americano, Donald Trump, feito horas antes no auditório da sede das Nações Unidas, dizendo que concorda com ele em relação à importância do patriotismo e da soberania, para ser possível criar condições de cooperação internacional.

“É preciso regressar ao multilateralismo eficaz”, disse Macron, invocando a coragem da responsabilidade e falando em dois setores cruciais, para o futuro da humanidade: a saúde e o clima.

O diagnóstico do Presidente francês foi pessimista, em relação ao clima: “Estamos prestes a perder a batalha”, falando das florestas e dos oceanos.

Macron disse estar disponível para procurar soluções para as florestas da Amazónia e africanas e pediu a colaboração de todos os países para se envolverem em “ações concretas”, já a partir de 2020, em diversas conferências internacionais relacionadas com o tema.

“Chega de discurso de denúncia. Não podemos ficar no conforto da inação”, acusou o líder francês, reconhecendo que a própria França continua a importar produtos que contribuem para a desflorestação.

Macron disse ainda que há “incoerência” nos líderes de países que defendem políticas ambientais, mas financiam instalações poluidoras em países subdesenvolvidos.

Na área da saúde, Macron disse temer que esteja a haver recuos em relação a evoluções conseguidas nas últimas décadas, recordando que ainda há muito para fazer no combate às pandemias que se anunciam e recordando que continuam a morrer milhões de pessoas com doenças como o paludismo.

No diagnóstico final, Macron disse que novas formas de capitalismo estão a criar mais desigualdades: regionais, económicas, de género.

“A resposta é a mesma: coragem!”, concluiu o Presidente francês, perante a plateia de líderes nas Nações Unidas, dizendo que prefere acreditar na capacidade de colaboração multilateral, em detrimento de divisões políticas, que, em muitos casos, produziram os desafios que agora devem ser vencidos.

A 74.ª sessão da Assembleia-Geral da ONU, cujos trabalhos decorrem até setembro de 2020, é presidida pelo diplomata nigeriano Tijjani Muhammad-Bande, que assumiu o cargo anual na passada semana.

Em 2019, o debate geral tem como tema central a “galvanização de esforços multilaterais para a erradicação da pobreza, para uma educação de qualidade, para uma ação climática e para a inclusão”.