Todos os dias são recebidos na Casa Grande, espaço que abriga a instituição, 20 jovens que realizam diversas atividades enquanto é feita uma avaliação de perfil para lhes dar uma oportunidade de trabalho.

A presidente da APSA, Piedade Líbano Monteiro, contou à agência Lusa a história da associação, que surgiu de um pedido de um médico, que via estas famílias “perdidas”.

Piedade Líbano Monteiro reuniu esforços juntamente com outros pais e fundou a associação a 07 de novembro de 2003.

Mãe de um jovem de 26 anos, com síndrome de asperger, contou que desde a primeira muda da fralda percebeu “que aquele não era um bebé igualzinho aos outros”.

Aos dois anos e meio chegou o diagnóstico de “uma perturbação do desenvolvimento grave” e aos 10 anos foi indicada a síndrome de asperger.

Esta perturbação do espetro do autismo provoca dificuldades de relacionamento, comportamentos repetitivos, descoordenação motora, dificuldade na comunicação verbal e não verbal, leva a interesses limitados e especiais, entre outros problemas.

A associação começou a sua atividade quando os pais decidiram usar a sua experiência para ajudar outros pais, iniciando-se uma dinâmica de reuniões – “Encontros APSA”.

“A APSA foi avançando à medida que nestas reuniões de pais nos iam trazendo problemas. Por exemplo, se havia um grupo de pessoas com dificuldade em pedir uma terapeuta da fala para o filho, então era sobre isso que nós íamos falar e trabalhar”, relatou.

Estes pais concluíram que “os grandes problemas surgiam sempre nas escolas” porque era aqui “que se percebia que estas crianças eram efetivamente diferentes quando estavam com os outros”.

Surgiu assim o “Projeto Gaivota”, sessões dadas pelos pais, que pretendem “sensibilizar, desmitificar e explicar o que é a síndrome de asperger”.

“Nós começamos só por ir às escolas, mas neste momento vamos a todo o sítio onde seja preciso falar da síndrome. Não há limite de espaço geográfico, não há longe nem distância”, afirmou Piedade Monteiro.

Mas as dificuldades não acabam com a idade escolar, encontrando estas pessoas um “fosso” na transição para o mercado de trabalho.

“Nós começamos a constatar que estes jovens ficavam em casa, hipotecando a vida dos pais e a deles e que não havia saída” e começou a ser pensado um projeto que os ajudasse no futuro.

Foi então criado o “Projeto Empregabilidade” e construída a Casa Grande, espaço que recebe diariamente jovens que realizam diversas atividades - música, costura, agricultura, jardinagem, cozinha, expressão plástica.

Nestas atividades são avaliados diariamente: “como é que se comporta, como é que está perante os outros, como é que lida com a frustração, se é ou não resiliente e o que é que ele gosta realmente de fazer”, explicou.

Depois da avaliação é feito “um plano de ação”, que o jovem e a respetiva família pode aceitar ou recusar, para que depois se chegue a um emprego.

É estudada a empresa mais indicada para cada perfil e há “total transparência”, sendo explicado que a APSA acompanhará sempre este trajeto e que o padrão diferente de comportamento não impossibilita o jovem de conseguir cumprir com distinção as tarefas que lhe são destinadas.

“Eles podem entrar como voluntários, estagiários, estagiários remunerados, como curso de formação e têm uma remuneração também e podem ir diretos ou não ao contrato de trabalho”, explicou a presidente da APSA.

Este programa já possibilitou sete contratos de trabalho e a parceria com mais de uma dezena de empresas, desde banca, hospitais ou hipermercados.

Para além destes projetos, a Associação Portuguesa de Síndrome de Asperger tem outras iniciativas, como o “Escutar e Orientar” e o “Tempo de Pais”, espaços de conversa que decorrem na associação, sendo o último não exclusivo a familiares de pessoas com esta problemática, mas disponível para “qualquer pai que se sinta perdido”.

Com isto, Piedade Líbano Monteiro, não tem “a perspetiva de dizer que a APSA tem respostas para tudo”, mas afirma que ninguém sai da instituição “sem uma perspetiva de esperança”.

Apesar da visão otimista, defende que é preciso “puxar por quem no fundo manda neste país” porque “é preciso cuidar do futuro da pessoa com deficiência”.

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