"O senhor Luiz Inácio Lula da Silva, quando era Presidente da República, esteve no Irão, e lá defendeu que aquele regime pudesse enriquecer urânio acima dos 20%, isso para fins pacíficos", declarou o atual chefe de Estado do Brasil, após assistir às declarações do seu homólogo norte-americano, Donald Trump, acerca do conflito com o Irão.

As declarações de Jair Bolsonaro surgem horas depois de Lula da Silva ter usado a rede social Twitter para defender a não interferência do Brasil no conflito entre os EUA e o Irão, acrescentando que o seu país é construtor de paz e não se deve "meter".

"O momento não é adequado para o Brasil se meter numa briga externa. O Brasil não tem contencioso com o mundo, sempre manteve uma política diplomática harmoniosa. Devemos ser um construtor de paz", escreveu Lula da Silva.

O antigo chefe de Estado, condenado duas vezes por corrupção, acusou ainda o atual Presidente do Brasil de "lamber as botas" a Donald Trump.

"Na relação internacional sempre há dois interesses: o seu e o do outro. Você tem sempre que equilibrar o deles com o seu. O Bolsonaro não faz a menor questão de não ser um lambe-botas do Trump. (...) Os EUA gostam de criar confusão e de preferência longe do território deles. Não há necessidade de se inventar 'terrorismo' no Irão", indicou o ex-governante.

Jair Bolsonaro fez hoje uma transmissão de vídeo em direto, na rede social Facebook, em que assistia às declarações de Donald Trump sobre o ataque iraniano às bases militares dos EUA no Iraque, ocorrido na madrugada.

Além de criticar a posição de Lula da Silva enquanto Presidente, em relação ao Irão, Jair Bolsonaro declarou, com uma cópia da Constituição brasileira nas mãos, que o Brasil não se pode omitir diante dos acontecimentos, mas sublinhado que também não pode "extrapolar".

"Muitas pessoas acham que o Governo [brasileiro] se deve omitir diante dos acontecimentos. Nós temos que seguir as nossas leis. Nós não podemos extrapolar, mas acredito que a verdade tem que fazer parte do nosso dia a dia, que nós queremos para o mundo”, advogou o chefe de Estado.

Bolsonaro concluiu o vídeo frisando que a Constituição do país sul-americano diz "no artigo quarto, que a República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: a defesa da paz e o repúdio ao terrorismo".

Na sexta-feira, Jair Bolsonaro declarou que o Brasil "não tem forças armadas nucleares para poder dar opinião tranquilamente sem sofrer retaliações", defendendo que o posicionamento do Brasil seja "pacífico".

Apesar de o chefe de Estado defender que manterá uma posição pacífica em relação a conflitos externos, o seu Governo manifestou, no domingo, apoio ao Governo dos EUA após a morte do general iraniano, o que levou a um pedido de explicações por parte do país do Médio Oriente.

Maria Cristina Lopes, encarregada de negócios da embaixada do Brasil em Teerão, capital do Irão, já se reuniu com representantes do Governo iraniano, mas o teor da conversa não foi revelado.

Num comunicado divulgado na sexta-feira pelo Itamaraty (como é conhecido o Ministério das Relações Exteriores do Brasil) defendeu a "luta contra o flagelo do terrorismo", após um ataque dos EUA em Bagdad, capital do Iraque, matou o general iraniano Qassem Soleiman.

Jair Bolsonaro declarou na terça-feira que manterá o comércio com o Irão, mas garantiu que irá reunir-se com o seu ministro das Relações Exteriores para discutir a solicitação de explicações do Irão.

Mais de uma dúzia de mísseis iranianos foram lançados hoje de madrugada contra duas bases iraquianas com tropas norte-americanas, em Ain al-Assad (oeste) e Erbil (norte).

O ataque foi reivindicado pelos Guardas da Revolução iranianos como uma “operação de vingança”, em retaliação pela morte do general Qassem Soleimani, comandante da sua força Al-Quds, na sexta-feira, num ataque aéreo em Bagdad ordenado por Donald Trump.

O ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, disse que os militares portugueses no Iraque estão “fora de qualquer tipo de perigo”, aquartelados a mais de 200 quilómetros dos locais onde caíram os mísseis iranianos.