As 12 vítimas de situações de abusos que exigem o fim de décadas de ocultação de casos de abusos por parte do clero terão um encontro, na quarta-feira, não com os líderes de topo da Igreja, mas com o comité organizador da cimeira para transmitir as suas queixas.

A cimeira congregará de quinta-feira até domingo os presidentes de conferências episcopais de todo o mundo e visa resolver o problema do abuso de crianças por parte do clero.

Entre as vítimas está o espanhol Miguel Hurtado, que acusou o monge da abadia Montserrat Andreu Soler, assim como o chileno Juan Cruz, entre outros.

O comité organizador de quatro membros é liderado pelo principal investigador de crimes sexuais do Vaticano, o arcebispo maltês Charles Scicluna, e é composto pelo o cardeal Blase Cupich de Chicago, pelo cardeal Osvald Gracias de Mumbai e o padre Hans Zollner, membro da comissão consultiva do papa sobre abuso sexual.

O chileno Juan Carlos Cruz, que coordena a reunião de sobreviventes, disse à Associated Press que espera "um diálogo construtivo e aberto" e que os membros do comité da cimeira transmitam a exigência dos sobreviventes de que os bispos parem de alegar ignorância sobre os abusos.

"Isso tem que parar", disse Juan Carlos Cruz.

"Violar uma criança ou uma pessoa vulnerável e abusar deles está errado desde o primeiro século, a Idade Média e agora”, adiantou.

O comité organizador da cimeira lançou um pedido aos participantes para que antes da cimeira se encontrassem com as vítimas nos respetivos países para se familiarizarem com a dor e o trauma e desmascararem a ideia amplamente difundida de que o abuso sexual de padres só acontece em algumas partes do mundo.

Juan Carlos Cruz disse que a mensagem chave que os bispos devem retirar da cimeira é que devem impor a verdadeira "tolerância zero".

"Existem leis aplicáveis na Igreja para punir não apenas aqueles que cometem o abuso, mas aqueles que o encobrem", disse.

A cimeira inicia-se com uma breve introdução do papa e termina com um discurso, de Francisco, no domingo de manhã.

Os primeiros três dias da cimeira serão dedicados respetivamente aos temas da responsabilidade, responsabilização e transparência. Contarão com várias intervenções, incluindo dos cardeais Tagle, Gracias, Cupich e Marx e do arcebispo Scicluna.

Estão ainda previstas intervenções de duas mulheres ligadas a estruturas da Igreja e, no final, Valentina Alazraki, vaticanista mexicana, falará da importância da comunicação social em toda esta problemática.

Em cada dia, no final das apresentações, os bispos reúnem-se em grupos de trabalho, divididos por línguas, para discutir os temas, estando prevista a apresentação pública de sínteses.

O escândalo dos abusos sexuais cometidos por membros da Igreja Católica foi um dos grandes desafios do papa em 2018.

O abuso sexual contra crianças durante vários anos chegou a ser classificado pelo secretário do papa emérito Bento XVI como “o 11 de Setembro da Igreja Católica”, um momento apocalíptico com incontáveis vítimas.

A 12 de setembro, Francisco decidiu marcar uma cimeira sobre os abusos sexuais na Igreja, convocando os presidentes de todas as conferências episcopais.

O anúncio foi feito no seguimento de um encontro do "C9", o grupo de cardeais que aconselha o papa sobre a reforma das estruturas da Igreja.