No início de 2020, o supermercado online Comuniti começou a operar a partir de Ovar e com entregas em todo o país. O projeto é o resultado de um investimento superior a 500.000 euros com capitais próprios da israelita Ravit Turjeman e do português Rui Adrego, ambos empresários com experiência internacional na transação de bens de consumo.

Apesar de ter sido criado em Ovar, foi entretanto transferido, em setembro de 2020, para Santa Maria da Feira, também no distrito de Aveiro, o que se deveu à oferta de "melhores condições de trabalho" na zona industrial de Canedo e à "maior sensibilidade burocrática e empresarial" da respetiva autarquia.

Ainda assim, a passagem por Ovar ficou também marcada pelo cerco sanitário à volta da cidade, em março do ano passado, como recordaram os fundadores em declarações à Lusa.

"Com o fecho das fronteiras de Ovar, nos primeiros tempos do cerco não conseguíamos receber mercadoria nem fazer escoar as encomendas, e foi um pesadelo burocrático resolver isso. Depois, quando o confinamento passou a ser geral, o número de clientes também cresceu tanto, tão depressa, que mal tínhamos mãos para tudo e chegámos a fazer entregas às duas da manhã", revelou Rui Adrego.

Enfrentando nessa altura "severas limitações à contratação de pessoal, que era o recurso que mais fazia falta para atender ao súbito e elevado número de clientes", o novo supermercado online teve que limitar o número de encomendas diárias, mas tal "não impediu um pico de registo de novos utilizadores", proporcionando à marca "uma base relevante para analisar o comportamento dos consumidores e definir novos ‘targets' [alvos]".

Agora, o supermercado tem "70.000 clientes inscritos no site" e "mais de 50.000 visitantes diferentes por mês".

Ravit Turjeman destacou duas das razões que contribuíram para uma faturação inicial de 1.2 milhões de euros "num ano tão atípico" como 2020:

  • o mecanismo que compara os preços da Comuniti com os dos quatro principais "players online" portugueses
  • a modalidade de compra em quantidade, que garante uma poupança crescente consoante o número de unidades adquiridas do mesmo artigo.

"Além disso, os clientes sabem que também estamos a preparar o lançamento da ‘community buy' [compra comunitária], que permitirá aos fornecedores disponibilizarem produtos com preços muito mais vantajosos se 40, 50 ou 100 pessoas aderirem ao mesmo grupo de compra", adiantou a empresária, realçando que essa inovação está em processo de registo de patente internacional.

Para Rui Adrego, esse mecanismo de compra coletiva é o que melhor reflete a filosofia da Comuniti.

"Vai ajudar as pessoas a comprarem de forma mais inteligente e a evitarem o desperdício de tempo, dinheiro e energia que se verifica quando não podem adquirir o que querem no momento em que lhes dá jeito, por saberem que devem esperar pela data das promoções - que, infelizmente, na generalidade dos supermercados, são a única altura em que os preços se revelam de facto justos para com o cliente e o próprio produtor", descreveu.

Agilizar a venda dos mais de 4.500 produtos disponíveis no site, "60 % dos quais em stock imediato", implica agora o trabalho de uma equipa mínima de 16 colaboradores diretos e uma área global de 4.000 metros quadrados que, em Canedo, acolhe escritórios, armazéns e também uma loja presencial aberta ao público. No entanto, Ravit Turjeman admitiu que a Comuniti poderá precisar de reforçar os seus recursos humanos a breve prazo.

Os fundadores do supermercado online garantem que a sua prioridade ainda é "apoiar as famílias portuguesas num momento muito difícil das suas vidas", mas esperam que o Estado e as autoridades da concorrência saibam acompanhar as crescentes exigências do "e-commerce", fiscalizar "práticas imorais" e implementar políticas mais favoráveis a consumidores e fabricantes.

"Os maiores operadores portugueses dispõem de uma estrutura física e logística tão pesada e complexa que isso lhes retira qualquer motivação séria para baixarem os preços, o que resulta num claro prejuízo para o consumidor final e, inevitavelmente, para os próprios produtores e fabricantes, que assim se veem impedidos de escoar o stock desejado com margens justas", concluiu Rui Adrego.

Porque o seu tempo é precioso.

Subscreva a newsletter do SAPO 24.

Porque as notícias não escolhem hora.

Ative as notificações do SAPO 24.

Saiba sempre do que se fala.

Siga o SAPO 24 nas redes sociais. Use a #SAPO24 nas suas publicações.