“Os professores ficaram todos indignados, a senhora antes de me agredir fez questão de me perguntar se eu era a Diretora da Escola Portuguesa [de Cabo Verde, EPCV], se eu era a Suzana Maximiano. Portanto, isto é uma agressão não só à Suzana Maximiano enquanto pessoa, como também à diretora da escola e a todo o projeto de cooperação que está aqui em causa”, afirmou à Lusa.

As agressões físicas, segundo a diretora da EPCV, a mais procurada da Praia, aconteceram na quarta-feira, 12 de outubro, e terão sido perpetradas por uma cidadã cabo-verdiana, mãe e encarregada de educação de um aluno que em 2020/2021 e 2021/2022 frequentou aquele estabelecimento de ensino, suportado pelo Orçamento do Estado português e que funciona no âmbito de um acordo bilateral de cooperação com Cabo Verde.

Contudo, no último ano, nenhuma propina foi paga pela encarregada de educação, totalizando 70.000 escudos (630 euros) em dívida.

“Já o primeiro ano pagou com muita dificuldade e neste ano [2021/2022] não pagou nada. Foi-lhe dado prazos sucessivos para efetuar esse pagamento, o limite era meados de julho, quando fosse das renovações das matrículas. Não o fez, nós demos-lhe mais prazo, até 30 de setembro, não cumpriu. Nessa altura pagou as refeições de 2020/2021, que estavam em atraso ainda, mas não pagou nada relativo a 2021/2022”, explicou a diretora.

“Ainda assim, porque pediu para o filho assistir às aulas, sem estar ainda matriculado, demos mais uma semana. Deixámos o aluno assistir para não o prejudicar, mas a senhora não cumpriu, foi-lhe dado até ao final da primeira semana de outubro”, acrescentou Suzana Maximiano.

No dia 04 de outubro, a direção da escola comunicou à encarregada de educação que se não efetuasse os pagamentos em dívida “até ao final dessa semana”, a partir de 10 de outubro “o aluno não poderia continuar a assistir às aulas porque não estava matriculado e porque não havia condições para o matricular”.

A diretora relatou que no dia 12 de outubro, quarta-feira, foram recebidas alegadas ameaças da encarregada de educação na escola, “sobre o que ia fazer” — que a diretora admite ter desvalorizado -, as quais terão sido concretizadas nesse mesmo dia, quando se preparava para almoçar na casa de amigos, na Praia.

“Aparece a bater à porta a pedir para falar comigo. E agride-me, pronto. Eu não estava à espera, do nada agrediu-me com quatro bofetadas na cara. Tenho testemunhas, fui logo para a Polícia Nacional dar conta do ocorrido, fui ao hospital, porque fiquei com tonturas e com desequilíbrios e o caso está a seguir os trâmites legais”, explicou a diretora.

Além da agressão, Suzana Maximiano queixou-se à Polícia Nacional das ameaças que também recebeu no mesmo momento: “Disse que não ficava por ali, que isto era só para eu aprender e para eu aguardar para ver o que me ia fazer a seguir”.

A diretora regressou, entretanto, à escola e às suas funções, apesar de alguma apreensão provocada pelo incidente.

“Estou a trabalhar à mesma, mas como é óbvio tenho mais cuidado, não ando sozinha na rua, por exemplo”, disse ainda.

Com cerca de 900 alunos, a Escola Portuguesa de Cabo Verde foi inaugurada em 2017, na sua primeira fase, seguindo-se a segunda fase (até ao 10.º ano letivo) dois anos depois, estando agora a alargar-se ao 11.º e 12.º anos.

A Escola Portuguesa de Cabo Verde iniciou a atividade no ano escolar de 2016/2017 com 22 alunos, contando hoje com mais de 60 professores e cerca de 50 funcionários.

“É um exemplo e em vários sentidos. É um exemplo em termos de qualidade, isto é, uma escola de elevadíssima procura porque os pais percebem que aqui há excelente qualidade e, portanto, desde logo a qualidade é algo que queremos incutir no relacionamento entre Portugal e Cabo Verde, e, portanto, nesse sentido, é paradigmático”, disse em maio último, durante a visita à EPCV, na companhia de Suzana Maximiano, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, João Gomes Cravinho.

Nas três fases do empreendimento, a Escola Portuguesa de Cabo Verde representa um investimento de 2,3 milhões de euros.