Em 2019, o prémio ‘Global Teacher Prize’ distinguiu um professor de História das Caldas da Rainha pelos métodos interativos que utilizava nas suas aulas para captar a atenção dos alunos e quando em março de 2020 a pandemia da covid-19 obrigou Rui Correia a passar da escola para casa, a adaptação não foi difícil.

“Já tinha dado aulas num hospital sem sair da sala de aula”, recordou em entrevista à agência Lusa, para explicar que a possibilidade de adaptar as lições ao digital já era uma preocupação para assegurar que os alunos não perdiam as aulas por estarem em casa.

Ainda assim, passou a estar separado por um ecrã de todos os seus alunos e, por isso, foi obrigado a repensar as suas aulas, já que habitualmente dedicava apenas cerca de 20 dos 90 minutos a expor a matéria daquele dia e depois o trabalho era maioritariamente dos alunos, por concordar que “é um horror” ficar calado a ouvir durante tanto tempo.

“Como é que se mantém esta interatividade à distância? Através daquilo a que eu gosto de chamar invisibilização do professor, o professor começar a desaparecer de cena. Não é propriamente nada de especial”, explicou.

Com uma visão diferente do que é ensinar e aprender, Rui Correia entende que não é a figura do professor que deve assumir-se como protagonista numa sala aula, em que uma grande parte do trabalho fica do lado dos alunos que “têm de participar e têm de produzir coisas”.

Ainda assim, defendeu que os professores têm um papel essencial e que, contrariamente ao que seria, à partida, expectável, não é propriamente o de ensinar. Isto porque, na sua perspetiva, “ninguém ensina nada a ninguém”.

“Todas as coisas que sabemos, aprendemos. Nada foi ensinado”, começa por dizer, sustentando que é preciso fazer com que os alunos se interessem por aquilo que está a ser lecionado para aprenderem. E é aí que entra o professor.

“Se o conhecimento que [o aluno] tem foi construído por causa dos seus interesses, então temos de garantir que os seus interesses são bem-vindos. O passo mais prático que podemos dar para isso é ir à procura das soluções que nos aproximem e isso não se faz com ‘talking heads’, faz-se com partilha e interação”, acrescentou.

Era essa a lógica que aplicava antes da pandemia e replicou-a durante o período em que estiveram à distância: Em videoconferências através da plataforma Zoom, expunha a matéria nos primeiros minutos, distribuía atividades e deixava os alunos a trabalharem em conjunto. Eram assim as aulas e, sempre que necessário, marcava sessões individuais com os alunos.

Por isso, não acredita que os seus alunos tenham perdido com o ensino ‘online’ e acha que, paradoxalmente, a distância até os aproximou.

Além de ir ao encontro dos alunos na forma como conduz as suas aulas, Rui Correia também o faz na forma como os avalia, por acreditar que nem todos brilham da mesma forma.

“Uns alunos safam-se muito bem na escrita, com testes escritos tradicionais, outros preferem respostas múltiplas, outros preferem fazer um vídeo, outros preferem fazer maquetes. Eu tenho é de ir atrás de todas essas coisas”, sublinhou.

Por isso, é também contra o modelo tradicional dos exames e, sobretudo, contra o peso que têm, considerando que são uma espécie de “experiência de laboratório que não funciona”.

“Sujeitos todos ao mesmo e vamos ver quais são os melhores. Não! Vamos ver quais são aqueles que se adaptaram melhor àquele grau de exigência, forma de demonstrar o que sabem e tempo de trabalho. Todos quantos gostam de fazer as coisas diferidas, oralmente ou de outra maneira são postos de lado”, criticou.

Por outro aldo, defendeu antes que se confie nos professores e valorize mais a avaliação continua. De outra forma, argumentou, “estamos a treinar os alunos para desprezarem o conhecimento e entenderem-no como uma espécie de artifício para se obter uma nota”.

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