Rute Fidalgo optou por congelar a matrícula no segundo ano do mestrado em jornalismo e trabalhar, em ‘part-time’ (tempo parcial), numa cadeia internacional de vestuário, para garantir a sua subsistência.

Licenciada em Ciências da Comunicação e da Cultura, a jovem já estagiou em dois canais de televisão e numa página de notícias ‘online’. Apesar de se ter adaptado bem ao ambiente de trabalho, na maioria dos casos, foi informada, à partida, de que não haveria possibilidade de vir a integrar a redação.

“Foi-me logo transmitido que seria algo temporário, porque eles não tinham muitas receitas publicitárias”, contou à Lusa.

No entanto, Rute quer continuar a apostar na formação, por isso, pensa fazer um estágio quando retomar os estudos e, em simultâneo, quer criar alguns projetos.

“Acabo por não ter grandes perspetivas pela via normal, ou seja, neste momento tenho que pensar um pouco ‘fora da caixa’ e criar projetos, que no meu caso passam pela Rádio Zero (projeto universitário do Instituto Superior Técnico)”, disse.

Situação idêntica vivenciou Joana Cabrita, que optou por estagiar numa operadora internacional de televisão e num jornal ‘online’, para “ocupar o tempo e, ao mesmo tempo, ganhar experiência”.

Joana destaca o papel que os estágios têm no processo de formação, mas, no entanto, refere que, em alguns casos, a experiência acaba por ser desmotivante.

“A nível de preparação para o mundo de trabalho, sem dúvida que foi uma experiência positiva. No entanto, tive muito trabalho e escrevi muitos artigos sem assinatura, o que acaba por desmotivar”, referiu.

Apesar de apontar algumas falhas nas condições de trabalho, Joana refere que estagiar é uma condição necessária para quem quer entrar no mundo do trabalho: "Os jovens têm que perceber que não se sai de uma licenciatura e vai-se logo para o patamar mais alto de uma empresa, o processo de estágio é necessário e faz parte. Porém, se as condições são boas ou não… isso já é outro assunto”, vincou.

Joana iniciou o seu percurso académico com uma licenciatura em Estudos Portugueses, mas optou por seguir a área da Comunicação quando ingressou no mestrado, na Universidade Católica, em Lisboa.

Prestes a terminar a tese de mestrado, a jovem de 23 anos quer procurar estágios profissionais para conseguir obter a carteira profissional de jornalista.

“Por agora, vou apenas focar-me na minha tese. Depois, quero fazer estágios profissionais para obter a carteira de jornalista, é algo obrigatório”, referiu.

À semelhança de Rute e Joana, também Alexandra José escolheu a área da Comunicação, em particular, na vertente de jornalismo.

“Apesar de estar em Ciências [no ensino secundário], o que gostava mesmo era de comunicar, não me via a trabalhar num laboratório ou a ser médica”, mas a estar ligada a algo “em que tivesse a oportunidade de ser criativa e que, de alguma forma, se relacionasse com o ‘design’ ou multimédia”, referiu.

Alexandra optou por fazer quatro estágios por iniciativa própria e, apesar de considerar que as experiências profissionais a dotaram de novas capacidades, a jovem de 25 anos, diz que as empresas acabam sempre por cometer alguns excessos.

“Posso dizer que tive pedidos para ir depositar cheques, ir buscar almoços para o chefe, colocar selos nas cartas e ir ao correio deixá-las, ir às Finanças e claro que tudo isto sem receber nada”, revelou.

A jovem adianta que as situações indicadas não são solucionadas porque existem pessoas que não se importam de trabalhar, independentemente, das condições oferecidas.

O mundo dos estagiários

“O problema do ‘mundo dos estagiários’ é que tu não aceitas, mas há 500 atrás de ti que aceitam de bom grado, as empresas têm que ser fiscalizadas e os contratos dos estagiários também”, referiu.

Alexandra José lamenta que os estagiários tenham apenas obrigações e que, perante a lei, o trabalho não seja reconhecido.

“Quem faz um estágio neste país, tem obrigações, mas não tem direitos, perante a lei estamos no limbo”, ou seja, “trabalhamos, cumprimos horários, somos eficientes, mas, para efeitos legais estamos em casa sentados no sofá, não temos direito a férias ou subsídios e no final recebemos uma palmadinha nas costas”, concluiu.

No primeiro trimestre deste ano, do total de 2.254,7 jovens entre os 15 e os 34 anos em Portugal, 265,5 mil não estavam empregados, nem a estudar ou em formação, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).

No mesmo período, havia em Portugal 113,7 mil pessoas em Portugal a trabalhar em atividades de informação e comunicação, abaixo dos 105,9 mil do primeiro trimestre de 2016, bem como dos dois trimestres anteriores (121 mil no terceiro trimestre de 2016 e 115,5 no quarto trimestre do ano passado).

O valor mais baixo da série do INE iniciada no primeiro trimestre de 2011 foi registado no quarto trimestre desse ano (71 mil) e o mais alto no terceiro trimestre de 2016 (121 mil).

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