“Eu acho que é possível ganhar um recorde do 'Guinness' com o bar forrado com 11.000 rolhas, principalmente, feito por uma pessoa só. Muitos clientes madeirenses, continentais ou estrangeiros dizem mesmo que nunca viram nada igual”, começou por contar à Lusa José Agrela.

O bar onde se fechou noites a fio a colar rolhas nas paredes está há 35 anos na família. Pertencia aos seus pais e é agora o seu “ganha pão”.

Questionado sobre a origem da ideia, responde, em tom de brincadeira, que o “arquiteto responsável” está dentro da sua cabeça e assegura que não se inspirou em “outras façanhas”.

Inicialmente, experimentou a ideia no bar de casa, gostou do resultado e começou a “aventura de recolher o número suficiente de rolhas para forrar o bar”, situado em Câmara de Lobos.

“Andei a pedir rolhas em vários bares, restaurantes e hotéis, o que não foi muito fácil porque, para começar um projeto destes, é necessário pelo menos uma média de 80% do material. Foi muita rolha”, frisou o proprietário, de 60 anos.

José Agrela terminou de forrar o bar, batizado com o seu sobrenome, em 2019, após três meses de trabalho de colagem, interrompido por um mal-estar físico causado pela inalação da cola, uma vez que trabalhava à porta fechada, depois de encerrar o estabelecimento.

Procurado como um dos bares com a melhor poncha de Câmara de Lobos, salienta que o segredo passa por “seguir a receita com os produtos originais”, reforçando que só trabalha com a aguardente da Calheta e que, para evitar as pedras de gelo, “que retiram qualidade”, o truque passa por colocar os copos no congelador.

José Agrela só trabalha com a bebida tradicional e emblemática da ilha da Madeira feita na hora, por isso, o cliente “tem de esperar” se quiser saborear uma boa poncha, bebida criada pelos pescadores de Câmara de Lobos para se aquecerem depois de uma ida ao mar.

O proprietário do bar Agrela relembrou, com uma certa angústia, o “tempo antes da pandemia” de covid-19, quando tinha “casa cheia até às 02:00 da manhã”, com clientes a terem de esperar na rua para serem atendidos.

O contraste é notório, com o madeirense a sublinhar “a visita de apenas três clientes” ao bar, culpando o recolher obrigatório imposto pelo Governo Regional da Madeira, entre as 19:00 e as 05:00 do dia seguinte, em dias da semana, e entre as 18:00 e as 05:00, ao fim de semana e feriados, como medida de contenção do vírus, que vigorará até às 23:59 de 12 de abril.

“Recebíamos madeirenses, mas também muitos turistas. Eram todos bem-vindos e tratados da mesma maneira. Já não temos turismo e muitos madeirenses terminam o trabalho à mesma hora que temos de fechar o bar”, lamentou.

José Agrela revela que, se tivesse de pagar a funcionários, já tinha “fechado a porta” e que recorrer à banca para pagar a renda e outras despesas não é opção, porque não vai poder aguentar.

A meta passa por trabalhar um dia de cada vez para conseguir manter o bar aberto e lamentou a falta de apoios para quem trabalha sozinho.

“Trabalhar das 16:00 às 18.00 não dá, é trabalhar para aquecer. Quem trabalha é porque precisa e, se eu não precisasse, também não estaria aqui”, frisou.

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