O vencedor, entre os quatro finalistas – pela primeira vez na história do galardão, todos eles coletivos – foi anunciado numa cerimónia na Catedral de Coventry e transmitido pelo canal da BBC.
Os juízes elogiaram o grupo por abordar questões sociais e políticas na Irlanda do Norte e por traduzirem seu ativismo em obras de arte como a intervenção que criou um pub irlandês típico, adornado com faixas que defendem os direitos reprodutivos e protestam contra a terapia de reorientação sexual.
O Array Collective é um grupo de artistas baseado em Belfast que cria trabalhos com foco em questões que afetam a Irlanda do Norte, traduzindo-as em performances, protestos, exposições e outros eventos.
Mais concretamente, tem trabalhado em temas como a descriminalização do aborto e a discriminação da comunidade homossexual.
Os coletivos artísticos Black Obsidian Sound System, Cooking Sections, Gentle/Radical e o projeto Art Works eram os outros quatro finalistas do Prémio Turner de arte contemporânea, no valor de 25 mil libras esterlinas (cerca de 29 mil euros).
Este ano, a exposição das obras dos finalistas a concurso é apresentada no Museu e Galeria Herbert Art, em Coventry, no Reino Unido, até 12 de janeiro de 2022, integrada nas celebrações do evento Cidade da Cultura 2021.
O prémio, uma das mais importantes distinções da arte contemporânea, regressa assim ao seu formato tradicional, depois de, na edição de 2020, ter sido transformado em bolsas de apoio a dez artistas, devido ao contexto da pandemia de covid-19 e do seu impacto na criação de arte contemporânea.
O Prémio Turner para as artes visuais foi criado em 1984 com o nome do pintor William Turner (1775-1851) e é atribuído anualmente a artistas nascidos ou a residir no Reino Unido, com base no trabalho desenvolvido no ano anterior.
Todos os nomeados de 2021 trabalham de perto e continuamente com comunidades no Reino Unido para “inspirar a mudança social através da arte”, e as práticas colaborativas selecionadas pelo júri, este ano, também refletem “o sentido de solidariedade e de comunidade demonstrado em resposta à pandemia”, segundo o texto da organização sobre a nova edição anunciada em maio.
O diretor da Tate Britain e presidente do júri do Prémio Turner, Alex Farquharson, sublinhava, na altura, num comunicado: “Uma das grandes alegrias deste prémio é a forma como captura e espelha a atmosfera do momento na arte contemporânea britânica. Após um ano de confinamento, durante o qual poucos artistas puderam expor as suas obras publicamente, o júri selecionou cinco coletivos notáveis, cujo trabalho não só continuou durante a pandemia como até se tornou mais relevante”.
Por seu turno, os Black Obsidian Sound Sistem (B.O.S.S.), com base em Londres, são formados por artistas negros e de cor, ‘queer’, ‘trans’ e intersexo.
No seu trabalho, procuram desafiar as normas dominantes no meio dos sistemas de som nas comunidades africanas da diáspora, através de instalações, performances, oficinas e comissões criativas.
O Cooking Sections, duo baseado em Londres, examina os sistemas e organizações ligadas à alimentação no mundo, num trabalho de reflexão artística expresso em instalações, performances e vídeo que explora as fronteiras entre arte, arquitetura, ecologia e geopolítica.
Trabalhos recentes do duo sobre a produção de salmão foram expostos na Tate Britain em 2020.
O grupo Gentle/Radical, de Cardiff, liderado por artistas, trabalhadores comunitários, performers e escritores, defende que a arte é um instrumento de mudança social e criam espaços reais e virtuais nas comunidades do País de Gales.
O projeto Doorstep Revolution, inspirado no confinamento, é um dos que este grupo tem em curso, para partilha de histórias entre vizinhos sobre as dificuldades em lidar com a pandemia.
Quanto ao coletivo Project Art Works, inclui uma grande diversidade de artistas com base na cidade de Hastings, onde desenvolve projetos colaborativos com minorias e dissemina o seu trabalho através de exposições, eventos, filmes e plataformas digitais.
Entre os vários projetos, criaram o filme “Illuminating the Wilderness” (2019), que segue as vivências dos membros do coletivo e das suas famílias.
O Prémio Turner – patrocinado pela Fundação AKO – entregará ao vencedor 25.000 libras esterlinas e 10.000 libras (11.500 euros) para cada um dos outros finalistas.
Aaron Cezar, diretor da Delfina Foundation, Kim McAleese, programador da Grand Union, Russell Tovey, ator, e Zoé Whitley, diretora da Chisenhale Gallery, integraram o júri presidido por Alex Farquharson.
Em 2020, a organização do Prémio Turner entregou a dez artistas uma bolsa de 10 mil libras, em substituição do galardão: Liz Johnson Artur, Oreet Ashery, Shawanda Corbett, Jamie Crewe, Sean Edwards, Sidsel Meineche Hansen, Ima-Abasi Okon, Imran Perretta, Alberta Whittle e a organização Arika foram os escolhidos.
Em 2019, os quatro finalistas – Lawrence Abu Hamdan, Helen Cammock, Tai Shani e Oscar Murillo — decidiram, de forma inédita, reunir-se num coletivo, a quem o prémio foi atribuído, uma proposta que o júri aceitou por unanimidade.
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