Em declarações à agência Lusa, o presidente da Comissão de Defesa Nacional da Assembleia da República, Marcos Perestrello (PS), frisou que cimeira de líderes da NATO tem “como objetivo principal afirmar a unidade da Aliança em torno desta crise que se está a suceder na sua fronteira leste”.

“É uma cimeira que tem sobretudo um caráter simbólico. (…) A Aliança quer sobretudo reafirmar que está unida em torno dos seus objetivos essenciais, que é uma aliança defensiva – que, como já afirmou, não tenciona entrar diretamente em combate em território ucraniano – mas que está firmemente empenhada em defender o seu território e que não admitirá ataques a Estados-membros da Aliança”, disse.

A deputada do PSD Ana Miguel Santos, que integra também a Comissão de Defesa Nacional, realçou o “sinal muito importante” que representa a vinda, em altura de conflito, do Presidente dos Estados Unidos à Europa.

No entanto, Ana Miguel Santos destacou a “forte pressão” sobre os líderes da NATO “para anunciar algo”, feita designadamente pelos “ucranianos e países limítrofes com a Ucrânia”, visando um “tipo de resposta mais armada e não tão política”.

A social-democrata atenuou as esperanças nesse domínio, considerando que tanto o direito internacional, como a memória “muito fresca” da “saída abrupta” das tropas da Aliança do Afeganistão, obstaculizariam uma resposta mais armada por parte da NATO”, que se deverá manter a opção pelo fornecimento de material militar.

“Eu não acredito que a NATO, por muita vontade que tenha, consiga neste momento intervir. O que a NATO está a fazer neste momento é a salvaguardar as suspeitas e os receios dos países que integram a NATO e que estão próximos da Ucrânia e que se sentem ameaçados”, afirmou.

Apesar dos apelos da Ucrânia para a criação de uma zona de exclusão aérea sobre o seu território, Marcos Perestrello sublinhou que a NATO “tem dito que não está disponível para entrar em combate direto”, uma postura que, estima, não deverá sofrer “uma mudança” nesta cimeira.

“A NATO tem procurado evitar a escala do conflito e a subida do conflito para patamares não convencionais de combate, designadamente para o patamar de armas químicas e para o patamar de armas nucleares. A NATO tem feito um esforço para evitar essa escalada e, portanto, também tem entendido que não deve entrar em combate direto”, recordou.

Fora da esfera militar, a China deverá também ser motivo de discussão por parte dos líderes da NATO, numa altura em que os Estados Unidos acusam a Rússia de ter pedido apoio militar e financeiro a Pequim e afirmam que os chineses mostraram alguma abertura a essa opção.

Na ótica de Ana Miguel Santos, os líderes da NATO poderão adotar uma “resposta mais robusta” contra Pequim, designadamente do ponto de vista económico, “procurando que a China deixe o seu lado neutral e force Moscovo e Putin a ter um outro tipo de reação”.

“Eu julgo que poderá haver aqui — e esta tem sido muito a estratégia — uma tentativa de neutralizar o Putin secando-o economicamente e pela via política, pelos seus aliados. No fundo, todos estão interligados com a Europa, e dependentes da Europa e do mercado americano”, frisou.

No mesmo sentido, Marcos Perestrello sublinhou que “a preocupação da Europa e a preocupação dos Estados Unidos não é propriamente afastar a China, mas, pelo contrário, aproximá-la, procurando evitar que a China se alie à Rússia neste conflito e alertando para as consequências que daí adviriam”.

Após a cimeira com a NATO, Biden irá participar na cimeira do Conselho Europeu e dos líderes do G7, antes de, na sexta-feira, se deslocar à Polónia. No entender de Marcos Perestrello, a deslocação do Presidente norte-americano “tem um caráter fortemente simbólico” dado que a Polónia “é, dos Aliados, aquele que está a sofrer mais pressão”.

Ana Miguel Santos interroga-se se, além da visita à Polónia, Biden irá também pisar solo ucraniano, à imagem de ações simbólicas feitas por antecessores, como a visita de Donald Trump à zona desmilitarizada entre as Coreias do Norte e do Sul, em junho de 2019.

“Eu diria que essa é a grande questão que se está a colocar e a grande expectativa que se coloca também olhando para o facto de que é a primeira vez que, no âmbito desta guerra, desta invasão, o Presidente dos Estados Unidos pisa o solo europeu”, frisou.