Este congresso, o sétimo na história deste partido fundado por Lula em 1980, e que irá durar até ao próximo domingo, também deve permitir a designação de novos líderes da formação política.

A atual presidente do PT, Gleisi Hoffmann, uma das figuras mais proeminentes da mobilização que exigiu a libertação do líder histórico da esquerda brasileira, procurará a reeleição.

Luiz Inácio Lula da Silva, que governou o Brasil entre 2003 e 2010, saiu da prisão no passado dia 08 deste mês, após uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que alterou a jurisprudência, e proibiu a prisão após condenação em segunda instância dos réus que recorrem para tribunais superiores, como era o caso do ex-líder sindical.

O histórico líder do PT foi preso após ter sido condenado em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), num processo sobre a posse de um apartamento, que os procuradores alegam ter-lhe sido dado como suborno em troca de vantagens em contratos com a estatal petrolífera Petrobras pela construtora OAS.

Ao sair da prisão, o ex-presidente, de 74 anos, prometeu "continuar a lutar pelo povo brasileiro", lançando ataques contra o atual Governo, liderado por Jair Bolsonaro.

O PT, considerado o principal partido de esquerda da América Latina, depois de vencer quatro eleições presidenciais consecutivas (2002, 2006, 2010, 2014), foi abalado nos últimos anos por grandes escândalos de corrupção, sofrendo um colapso em 2016, com a destitução do poder de Dilma Rousseff, substituta de Lula no comando do país sul-americano.

Desde então, o PT sofreu várias derrotas nas últimas eleições nacionais e locais, esperando agora, com o retorno de Lula ao cenário político, uma reconquista de poder nas eleições municipais do próximo ano.

Contudo, o cientista político Claudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas, acredita que "o sentimento anti-PT aumentou nos últimos anos no Brasil, o que constitui um obstáculo para entrar numa posição de força em municípios de grandes cidades, como São Paulo", onde o partido de esquerda já governou por três ocasiões (1989-1992, 2001-2004 e 2013-2016).

Nesta quinta-feira, na véspera do início do congresso, Lula defendeu candidaturas próprias do seu partido às eleições municipais.

"Ninguém vai defender o PT como o próprio PT defenderia", arguemntou Lula durante uma reunião pré-congresso.

A posição adotada pelo ex-governante opõe-se às negociações promovidas pelo PT junto a outros partidos em cidades como Porto Alegre ou Rio de Janeiro, durante o ano e meio em que o ex-líder sindical esteve preso em Curitiba.

No Rio de Janeiro, onde o PT esperava apoiar a candidatura do aliado Marcelo Freixo, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Lula sugeriu que a deputada Benedita da Silva (PT) pudesse ser candidata a prefeita daquela que é a segunda maior cidade do país.

Numa entrevista publicada hoje no jornal britânico The Guardian, Lula declarou que PT prepara-se para voltar ao poder. Porém, o antigo chefe de Estado evitou responder se ele próprio concorrerá às presidenciais de 2022.

"Em 2022, terei 77 anos. A igreja católica, com 2.000 anos de experiência, aposenta os seus bispos aos 75 anos", argumentou Lula da Silva, sem responder se voltará a tentar chegar à presidência.

O Congresso do PT, que durará três dias, também recebrá personalidades de esquerda de outros países, como o ex-primeiro-ministro espanhol José Luis Rodriguez Zapatero (2004-2011).