Marcelo Rebelo de Sousa atribuiu esta condecoração no final de uma sessão comemorativa dos 300 anos da fundação da Academia Real da História Portuguesa, da qual a Academia Portuguesa de História é herdeira, observando: “Uma ordem deste século a evocar a portugalidade de nove séculos e o poeta épico de há 400 anos”.

Nesta sessão, realizada na sede da Academia Portuguesa de História, em Lisboa, o chefe de Estado sustentou que “a descontinuidade entre o passado e o presente, descontinuidade de hábitos, comportamentos, crenças, valores, organizações sociais, regimes políticos”, faz com que só se possa “entender o passado historicamente, ou seja, contextualmente”.

“Só a História dá acesso aos códigos que nos permitem perceber os nossos antepassados. Podemos, é certo, julgá-los. Mas em História — que não é o mesmo que memória — compreender é mais importante do que julgar, e julgar sem compreender é uma atividade inútil”, defendeu.

Marcelo Rebelo de Sousa realçou a importância do trabalho dos historiadores, sem o qual “haveria apenas fragmentos desconexos de um passado mitificado ou diabolizado, nebuloso ou definitivamente mal entendido, baseado em falsidades e meias verdades”.

Depois, assinalou as mudanças ocorridas em Portugal desde 1720, quando foi fundada a Academia Real da História Portuguesa, até aos dias de hoje.

“Apesar disso, há como que uma continuidade, a que não temos de dar qualquer aura mística, que permite que os termos História e Portugal possam ser para um historiador de agora o mesmo que foram para Fernão Lopes, Rui de Pina ou Damião de Góis, e tantos outros depois deles”, considerou.

O Presidente da República acrescentou que “vale a pena preservar essa História”, de povos e nações como Portugal, “mesmo que a partir daí sejam mais as discordâncias do que as concordâncias”.

“A História nunca deixa de ser interpretável e polémica, como qualquer empreendimento intelectual, mas não é nem uma fantasia nem uma arma de arremesso. Há factos históricos, investigáveis, questionáveis, reenquadráveis, há movimentos históricos intelectual e politicamente situados, há modos diferentes de fazer História, há usos e abusos da História. Mas às academias, aos historiadores e até aos leitores cabe o empenho que aqui celebramos de compreender as descontinuidades e as continuidades, não para exercícios de saudosismo acrítico ou de ‘damnatio memoriae’, mas para sabermos quem somos, também por causa daquilo que fomos”, concluiu.