“Felizmente, Portugal é um país livre e há lugar para todas as opiniões. Nós podemos concordar muito ou concordar pouco, há lugar para todas as opiniões, não compete ao Presidente da República estar a entrar nos debates concretos que ocorrem na sociedade portuguesa”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente da República foi questionado, no Porto, sobre a posição do PCP, que hoje exigiu um “posicionamento inequívoco dos órgãos de soberania” sobre as críticas de que foi alvo por parte do presidente da associação Refugidos Ucranianos (UAPT), que no sábado disse à agência Lusa não perceber “como é que Portugal, um país democrático, continua a ter um partido como o PCP” e considerou que aquele partido está a “apoiar a guerra”.

Em comunicado divulgado hoje, o PCP defendeu que as declarações contra o partido têm um “nítido e intolerável caráter censório e persecutório que visa todos os democratas e que exige um posicionamento inequívoco dos órgãos de soberania”.

“As declarações de ódio fascizante proferidas por um responsável de uma associação de refugiados ucranianos contra a existência do PCP, na linha de reiteradas manifestações de ingerência da embaixadora da Ucrânia e de afirmações do ministro os Negócios Estrangeiros da Ucrânia igualmente dirigidas contra o PCP, tal como esbirros da PIDE atacavam os antifascistas, são relevadoras da natureza antidemocrática do Governo de Kiev”, sustentou o partido.

Instado pelos jornalistas a comentar a exigência do PCP, à margem da apresentação de um estudo promovido pela Associação Empresarial do Porto, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu: “Nunca comento, como sabem posicionamentos partidários, debates partidários, debates entre instituições da sociedade civil e partidos políticos, partidos políticos entre si. São legítimos, fazem parte da vida democrática, terem pontos de vista diversos e terem o confronto de pontos de vista”.

Presidente da República diz que Portugal tem de "tomar partido" da localização na nova geopolítica

Não obstante, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu hoje que Portugal tem de "tomar partido" das "vantagens comparativas" da sua localização geográfica e da geopolítica “que está a nascer agora”, com a guerra na Ucrânia.

"Para o turismo, não é indiferente o facto de a nossa localização geográfica ser mais distante do que outras sociedades, economias e países, que estão mais próximos daquilo que aos olhos dos turistas aparece como sendo o centro do conflito", disse, numa referência à guerra na Ucrânia.

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, "para quem opta, em termos de turismo, faz diferença ser muito próximo daquilo que consideram ser o centro do conflito ou mais longe", salientando a "sociedade estável, segura, comparando com os índices de estabilidade politica e segurança de outras", de que Portugal usufrui.

"De facto temos vantagens comparativas e temos de tomar partido delas", defendeu, em declarações aos jornalistas após a apresentação do estudo “Do pré ao pós pandemia: os novos desafios” e do lançamento do Congresso “Portugal Empresarial”, promovidos pela AEP - Associação Empresarial de Portugal.

Alguns minutos antes, a discursar, o Presidente da República já tinha destacado a localização de Portugal na Europa e as vantagens dessa localização.

“Portugal tem uma ocasião singular favorável na localização geográfica e na geopolítica que está a nascer agora”, começou.

“Na Europa unida, e unida aos Estados Unidos da América, e durante uma guerra em que nós estamos na Europa, para efeitos de turismo e para outros, numa situação de estabilidade política e de possível aproveitamento das virtualidades da nova geopolítica no atlântico norte, atlântico sul, pontes europeias transatlânticas, fornecimentos energéticos, dependências energéticas que objetivamente são favorecidas por opções anteriores e fatores objetivos”, contextualizou.

Também no seu discurso, o chefe de Estado falou sobre o processo de descentralização, referindo que gostava que este estivesse terminado até ao final de 2022.

"O processo em si mesmo descentralizador, em geral, uma vez que começou e tem vindo a processar-se ao longo de vários anos, com adiamentos consecutivos, que chegue o momento em que verdadeiramente se concluiu esse processo. Espero que seja até ao final de 2022", reforçou, depois aos jornalistas.