A ‘Petição pública dos médicos ao povo português’ já contava hoje pelas 20:00 com 1.358 assinaturas, uma adesão “muito satisfatória” que surpreendeu até o peticionário número um, o médico de medicina geral e familiar e professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Carlos Martins, que redigiu o texto no domingo e tem recolhido mensagens de apoio de muitos colegas, adiantou à Lusa.

O texto da petição pública, que Carlos Martins admite ser uma subversão do sentido habitual em que a base — as pessoas — se dirige a um órgão de soberania, é um apelo dos médicos para que os portugueses cumpram medidas de proteção e higiene básicas, repetidas desde o início da pandemia pelas autoridades de saúde, mas também para que as pessoas se abstenham de contactos sociais, o principal foco de contágios e maior preocupação dos clínicos que subscrevem o texto, com ênfase para as celebrações de Natal.

Carlos Martins rejeita o discurso constante de medidas para a “salvação do Natal”, defendendo que o exemplo pessoal dado pelo primeiro-ministro, António Costa, sobre a sua gestão familiar dos encontros desta época festiva, com reuniões familiares em dias diferentes, é exemplo do que não se deve fazer, sublinhando que é importante que as pessoas minimizem o número de contactos.

No texto da petição pede-se aos portugueses que assumam que, para que o próximo seja normal, “este Natal vai ser diferente”, passado apenas com o agregado familiar, estendendo a precaução a eventos de empresas, defendendo que será “necessário evitar essa forma de convívio”.

Carlos Martins defende que se isto não acontecer “a pandemia vai descontrolar-se e descontrolada já ela está”.

O professor universitário critica o espaço mediático completamente ocupado “com controvérsias e medidas legais” em vez de se focar nas questões essenciais de combate à pandemia.

“É preciso sensibilizar os cidadãos para regras tão simples, mas que não estão a ser cumpridas”, disse.

Carlos Martins defendeu que as férias escolares de Natal deviam ser alargadas de duas para quatro semanas, como forma de travar contágios, uma vez que discorda da “retórica em relação às escolas”, com as autoridades de saúde a insistirem que são responsáveis por uma percentagem residual de infeções.

O professor universitário cita estudos internacionais que questionam essa ideia, referindo também que em Portugal há um desconhecimento sobre a origem da infeção numa parte significativa dos casos positivos, ao que acresce que entre os jovens as infeções são muitas vezes assintomáticas.

Portugal contabiliza pelo menos 3.632 mortos associados à covid-19 em 236.015 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).

O país está em estado de emergência desde 09 de novembro e até 23 de novembro, período durante o qual há recolher obrigatório nos concelhos de risco de contágio mais elevado e municípios vizinhos. A medida abrange 191 concelhos.

Durante a semana, o recolher obrigatório tem de ser respeitado entre as 23:00 e as 05:00, enquanto nos fins de semana a circulação está limitada entre as 13:00 de sábado e as 05:00 de domingo e entre as 13:00 de domingo e as 05:00 de segunda-feira.