O relatório sobre os mercados de droga na UE, de 2019, publicado pelo Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (EMCDDA, sigla em inglês) e pelo serviço europeu de polícia Europol, dá conta que “os europeus gastam anualmente, pelo menos, 30 mil milhões de euros em droga, a nível retalhista, o que faz do mercado de droga uma importante fonte de rendimento para os grupos de criminalidade organizada” na União.

Deste montante, 11,6 mil milhões de euros por ano são gastos com canábis, seguindo-se a cocaína (9,1 mil milhões de euros), a heroína (7,4 mil milhões de euros) e anfetaminas e ecstasy (500 milhões de euros).

Além destas, o relatório destaca a existência de 55 novas substâncias psicoativas, num total de 731 já monitorizadas na UE, mas cujo impacto económico é desconhecido.

Segundo o documento, os países da UE que, entre 2017 e 2018, tinham maior dimensão no mercado da droga europeu eram o Reino Unido (mais de 25 milhões de euros), Alemanha (quase 20 milhões de euros) e Holanda (10 milhões de euros).

Estes países estão “noutra escala” quando comparados com os restantes Estados-membros, com receitas muito mais baixas.

Portugal fica a meio da tabela dos 28 Estados-membros, ocupando o 15.º lugar.

O relatório assinala que, “além do impacto económico, das mortes relacionadas com drogas e de outros danos à saúde pública, existem outras consequências dos mercados de droga, tais como ligações com atividades criminosas e terrorismo, impacto negativo na economia legal, violência nas comunidades, danos no meio ambiente e ainda a questão cada vez mais importante de como o mercado de drogas pode alimentar a corrupção e prejudicar a governança” na UE.

A título de exemplo, o documento refere que, em 2017, mais de um terço dos 5.000 grupos de crime organizado identificados na UE estavam diretamente envolvidos no mercado da droga.

Já quanto ao número de utilizadores, o documento precisa que 25 milhões de europeus entre 15 os 64 anos consumiram canábis no ano passado, enquanto cerca de quatro milhões utilizaram cocaína.

A estes somam-se 1,3 milhões de “consumidores problemáticos” de heroína, bem como 1,7 milhões de consumidores que experimentaram anfetaminas ou metanfetaminas em 2018 e outros 2,6 milhões que experimentaram ecstasy.

De acordo com o documento, esta situação reflete “os altos níveis de produção [destas substâncias] em todo o mundo e na UE”, que estão “em níveis historicamente altos”.

Na apresentação do documento, em Bruxelas, o comissário europeu para a Assuntos Internos, Migração e Cidadania, Dimitris Avramopoulos salientou que “as drogas não só estão relacionadas com a saúde, como também com a segurança”.

“Este relatório dá-nos uma perspetiva preocupante do mercado das drogas da UE, […] realçando desde logo uma dramática subida de substâncias sintéticas a aparecer no mercado”, acrescentou o responsável.

Dimitris Avramopoulos apontou que o documento também demonstra um aumento do crime organizado e a “ligação a outras áreas do crime como o terrorismo”, situação que afirmou ver com preocupação.

Por seu lado, o diretor do EMCDDA, Alexis Goosdeel, considerou que estes resultados são “uma chamada de atenção para os decisores políticos”, nomeadamente para a próxima Comissão Europeia, que deverá entrar em funções no dia 01 de dezembro.

Já a diretora da Europol, Catherine De Bolle, observou que o mercado de droga na UE “está numa dimensão sem precedentes”.

“Não fazemos nem confiscamos o suficiente”, adiantou, pedindo mais medidas contra este mercado em evolução, nomeadamente tecnológica.