Multidões alinharam-se hoje em Londres nos pontos de passagem do cortejo fúnebre de Isabel II, que morreu em 08 de setembro, aos 96 anos, e concentraram-se no Hyde Park, um dos maiores parques da cidade onde ecrãs gigantes transmitiram o funeral e desfile da urna com os restos mortais da monarca.

Com exceção da hora que durou o funeral, na Abadia de Westminster, em que a multidão se manteve em silêncio, o ambiente entre milhares de pessoas em Hyde Park foi sobretudo festivo, numa celebração da vida da mulher que foi rainha de Inglaterra durante mais de 70 anos, no mais longo reinado da história do Reino Unido.

Mark e Neil, de 24 anos, vieram de propósito de Birmingham, a mais de 160 quilómetros de Londres, por, nas palavras de Mark, ser “o mínimo” que podiam fazer para homenagear Isabel II e o seu legado, que “transcende religiões, culturas e idades”, como, sublinha, está bem patente na multidão de Hyde Park.

“Ela junta-nos a todos”, diz Mark, investigador na área da energia.

Em Hyde Park juntaram-se muitas famílias cheias de crianças e com idosos, que aproveitam a ida ao parque para um piquenique a seguir ao funeral, são dezenas os homens que exibem medalhas na lapela do casaco, há judeus ortodoxos ao lado de mulheres com a cabeça coberta com lenços que indicam que são muçulmanas.

“A rainha era muito unificadora”, sintetiza Hannah, de 24 anos e que, como a amiga que tem ao lado, exibe orgulhosa uma estética herdeira dos movimentos ‘punk’.

Hannah diz ter uma “relação complicada” com a monarquia e a família real, mas reconhece o papel agregador e simbólico de Isabel II nas últimas décadas, na história e na sociedade do Reino Unido.

Foi, com a amiga Tabatha, também de 24 anos, a Hyde Park para ver com os próprios olhos o “momento histórico” do funeral de Isabel II e adivinha que “este é o fim de uma era”, sublinhando que a multidão de hoje em Hyde Park seguiu em silêncio e com solenidade o funeral transmitido desde a Abadia de Westminster, mas no final, “ninguém cantou o hino” nacional, que passou a ser o “God save the King” (“Deus salve o rei”), com a proclamação de Carlos III.

Hannah e Tabatha sublinham, em declarações à Lusa, que vivem em Londres, mas passaram os últimos anos a estudar em Glasgow, na Escócia, onde “está bem presente” o discurso da separação do Reino Unido e do fim da monarquia.

“É provável que muita coisa tenha morrido com a rainha”, reflete Tabatha, depois de lembrar também a “história colonial complicada” e “ainda viva” do Reino Unido, que está por debater.

Quem não concorda são Linda, as três filhas e os cinco netos, todos de Londres, que no final do funeral de Isabel II abrem uma garrafa de espumante e brindam em Hyde Park “pela rainha e pelo Rei Carlos”.

Linda, de 60 anos, diz à Lusa que a família está “com a monarquia” e que “os ingleses estão com a monarquia” e explica que decidiu ir com as filhas e os netos para a rua para sentirem que estão “a fazer parte do momento histórico” e para “mostrar ao mundo” a união britânica em torno da coroa inglesa.

“Carlos vai ser um bom Rei, ele é um homem bom”, insiste, por diversas vezes.

À exceção de Linda e da sua família, ninguém em Hyde Park se refere a Carlos III nas conversas com a Lusa.

O foco está todos, ainda, em Isabel II, que hoje será sepultada em Windsor, depois das cerimónias fúnebres de Londres, e que levou milhares de pessoas a autênticas peregrinações à capital inglesa, nos últimos dias.

É este o caso de Sheila Theakston, de 74 anos, e da amiga “Mrs. McNaughton” (como se apresenta), de 84.

Vieram desde o nordeste da Inglaterra no sábado, fizeram uma fila nove horas e meia para passar na câmara ardente de Isabel II, em Westminster, no domingo, e acabaram hoje em Hyde Park, depois de já não conseguirem acesso aos pontos de passagem do cortejo fúnebre.

“Mrs. McNaughton”, agarrada a um bastão e descalça, confessa-se “muito cansada”, mas não imaginava passar estes dias em casa, sem se despedir “da rainha”.

Como o resto da multidão em Hyde Park, dedica-lhe um último aplauso quando o caixão com Isabel II é colocado no carro funerário real que o levará até Windsor. Um aplauso e um sorriso, porque o dia é de celebração.

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