“Há falta por todo o lado. Hoje passei uma hora na fila. Sou um trabalhador por conta própria e isto é tempo que podia estar com clientes”, queixa-se Alexandre Oliveira, taxista, à agência Lusa.

Para este português, condutor de um tradicional “black cab” londrino, o gasóleo é essencial para fazer o seu trabalho, que varia em termos de distâncias percorridas e que podem ultrapassar os 400 quilómetros num só dia.

“Preciso do tanque cheio, porque a qualquer momento podem pedir-me para ir para o aeroporto ou para a Oxford (a cerca de 100 quilómetros de Londres) e eu não posso recusar”, justificou.

As dicas sobre onde pode abastecer-se encontra-as nas redes sociais, usadas por grupos de taxistas para trocarem informações sobre os postos abertos e aqueles que estão a ser aprovisionados.

Sem acesso a este canal privilegiado, António Cunha, conselheiro das Comunidades Portuguesas e empresário no ramo do ‘catering’, disse ter despendido várias horas nos últimos dias para abastecer os seus veículos de distribuição.

“Alguns dos nossos fornecedores deixaram de fazer entregas, pelo que tem sido ele a ir buscar alguns dos produtos aos armazéns onde os veículos de transporte de mercadorias estão parados”, contou à Lusa.

Motorista de um automóvel de passageiros no norte da capital, Hugo Machado também teve dificuldades em abastecer-se e foi só numa autoestrada a caminho do aeroporto de Heathrow que conseguiu.

“As bombas locais estavam fechadas. Quando vi que aquelas tinham gasolina, não hesitei. Tinham um limite de 45 libras (52 euros), por isso voltei a abastecer-me no regresso”, adiantou, preocupado em manter o depósito cheio para poder trabalhar.

Várias bombas de gasolina em Londres que estiveram encerradas nos últimos dias encontravam-se hoje a funcionar, confirmou a Lusa no local, mas esta manhã ainda se verificavam filas com várias dezenas de carros e motas.

A situação não é tão grave fora dos centros urbanos, tendo outros emigrantes portugueses nas áreas de Birmingham, no centro de Inglaterra, e Thetford, no leste do país, indicado não terem sido afetados diretamente pela escassez de combustível.

O primeiro-ministro, Boris Johnson, disse na terça-feira que o problema do abastecimento de combustível nos postos está “a estabilizar” e que os motoristas devem continuar a fazer a vida normal.

“Nos postos, a situação está a estabilizar e as pessoas devem estar confiantes e fazer a sua vida normalmente”, vincou.

Manifestando “solidariedade” para com os automobilistas e condutores, disse compreender “como deve ter sido frustrante e inquietante preocuparem-se com a falta de gasolina e gasóleo”.

“Agora estamos a começar a ver a situação a melhorar. A indústria está a dizer-nos que o abastecimento está a voltar aos postos de forma normal”, acrescentou, prometendo que o Governo está a trabalhar para evitar uma repetição dos problemas nos próximos meses até ao Natal.

O ministro da Economia, Kwasi Kwarteng , afirmou esta manhã que alguns dos 150 militares que estão a ser treinados deverão começar “nos próximos dias” a conduzir camiões-tanque para ajudar no abastecimento dos postos de combustíveis.

As petrolíferas atribuíram a escassez à falta de camionistas qualificados, forçando o Governo a tomar várias medidas de emergência, incluindo a emissão de 5.000 vistos de trabalho temporários para estrangeiros.

Outras decisões incluem o aumento da capacidade para realizar exames de condução e a sua simplificação, a criação de “campos de treinos” para novos camionistas, o prolongamento da validade de licenças para conduzir camiões-tanque e o envio de um milhão de cartas para encorajar antigos condutores de pesados a voltarem à profissão.