"Não sei se está em 'stand by', se agora com este novo relançamento [da discografia de José Afonso] não possamos tomar em mãos de novo, empenharmo-nos na classificação da obra do Zeca como interesse nacional. É possível que sim, vamos esperar. Da parte do Ministério, por exemplo, não houve nenhum passo em frente", disse.

A Associação José Afonso entregou em agosto de 2019 no Ministério da Cultura uma petição, com mais de 11.000 assinaturas, que apelava à salvaguarda e reedição da obra de José Afonso, porque a maioria do trabalho do cantor estava indisponível no mercado discográfico.

No verão desse ano, também o parlamento aprovou o projeto de resolução do Partido Comunista Português (PCP) que recomendava ao Governo a classificação da obra do 'cantautor' como de interesse nacional.

Na altura, a família de José Afonso, detentora dos direitos da obra musical, mostrou apoio à classificação e ao “reconhecimento do interesse público".

Um ano depois, em setembro de 2020, foi anunciada a abertura, pela Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), de um processo de classificação da obra fonográfica, considerando que representa "valor cultural de significado para a Nação".

De acordo com o anúncio de abertura do processo, foi determinada a classificação de um conjunto de 30 fonogramas, 18 cópias digitais de 'masters' de produção de um conjunto de cassetes gravadas pelo autor e de um conjunto de entrevistas.

Dois anos depois do lançamento da petição e um ano depois da decisão do Ministério da Cultura, Francisco Fanhais disse não notar qualquer evolução no processo de classificação.

No passado dia 10 de novembro, a agência Lusa pediu mais informações à DGPC e ao Ministério da Cultura sobre o processo de classificação da obra fonográfica, mas aguarda ainda uma resposta.

A Associação José Afonso voltou a enaltecer a intenção da família do músico, anunciada em abril passado, de reeditar a obra discográfica.

Pela primeira vez, os 11 álbuns de José Afonso, originalmente editados entre 1968 e 1981, vão estar disponíveis nas plataformas digitais, sendo reeditados também em CD e em vinil, segundo um plano editorial decidido pela família de José Afonso, em parceria com a editora Lusitanian.

Atualmente estão reeditados "Cantares do Andarilho" e "Contos Velhos Rumos Novos" e este mês está previsto sair "Traz outro amigo também". O plano editorial estender-se-á até 2022.

Os 11 discos já haviam sido alvo de reedição pela Orfeu, entre 2012 e 2013, para assinalar os 25 anos da morte do compositor.

Coincidindo com este plano editorial, a Associação José Afonso publica este mês o livro "José Afonso - Todas as canções", que reúne as letras e os diagramas de acordes para guitarra de mais de 150 canções da autoria do músico.

A obra, compilada por José Mário Branco, João Lóio, Guilhermino Monteiro e Octávio Fonseca, tinha sido publicada em 2010 pela Assírio & Alvim, mas estava esgotada.

"Isto vem contribuir para o grande objetivo que temos como associação que é difundir a obra do Zeca, torná-la mais conhecida, alargá-la a novos públicos, a bandas de música, escolas de música", disse Francisco Fanhais.

José Afonso nasceu em 02 de agosto de 1929 em Aveiro e começou a cantar enquanto estudante em Coimbra, tendo gravado os primeiros discos no início dos anos 1950 com fados de Coimbra, pela Alvorada, "dos quais não existem hoje exemplares", refere a AJA na biografia oficial do músico.

Autor de "Grândola, Vila Morena", uma das canções escolhidas para senha do avanço das tropas, na Revolução de Abril de 1974, que hoje assinala 47 anos, José Afonso morreu em 23 de fevereiro de 1987, em Setúbal, de esclerose lateral amiotrófica, diagnosticada cinco anos antes.