Luís Dias, de 48 anos, encontrava-se em greve de fome há 28 dias, nos jardins em frente ao Palácio de Belém, em Lisboa, “contra a indiferença destrutiva do Estado”, que alega ter prejudicado o seu projeto agrícola.

A história de Luís Dias, segundo explica o jornal Público, remonta a 2015, quando apresentou, junto da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Centro (DRAPC), uma candidatura para ajudas financeiras para avançar com uma exploração de amoras na Quinta da Zebreira, em Castelo Branco.

A candidatura viria a ser recusada por, segundo o DRAPC, não existirem garantias bancárias.

O agricultor viria a recorrer ao Tribunal de Contas Europeu, que lhe deu razão, afirmando que as garantias bancárias não lhe podiam ser exigidas.

Em 2017, após o mau tempo ter destruído a sua exploração, voltou a pedir ajuda à DRAPC e verbas para compensar os prejuízos pela intempérie, mas o apoio voltou a ser recusado.

Dois anos depois, Luís Dias recorreu à provedora de Justiça e, nessa altura, o Ministério da Agricultura considerou, num despacho, que a Quinta da Zebreira poderia ter acesso a verbas do Estado, mas nunca efetuou qualquer pagamento.

O proprietário exige uma indemnização, mas até agora o Governo só aceitou realizar um inquérito, sem prazos.

Hoje, Luís Dias anunciou o fim da greve de fome, na rede social Twitter, apesar de o Governo continuar a não “assumir as suas responsabilidades”.

O anúncio foi confirmado pela Lusa numa troca de mensagens com Luís Dias, que partilhou a imagem da primeira sopa que comeu.

O proprietário agrícola tomou esta decisão no dia em que foi visitado, entre outros apoiantes, pela eurodeputada socialista e ex-candidata presidencial Ana Gomes e pelo ativista e ex-presidente da associação Transparência e Integridade João Paulo Batalha.

Depois, à tarde, voltou a conversar com o próprio Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que agora prometeu recebê-lo no Palácio de Belém, no próximo sábado, juntamente com o presidente da junta de freguesia em que se encontra a propriedade em causa.

O assunto já motivou “audiência por parte do secretário de Estado do Ministério envolvido”, mas esta revelou-se “infrutífera até agora”, confirma uma nota da Presidência da República, divulgada hoje, após a conversa.

“Muito mudou”, justificou Luís Dias, referindo-se às “manifestações de apoio e solidariedade” que recebeu, entre as quais as de “personalidades da vida política e cívica”.

A ex-eurodeputada socialista Ana Gomes disse hoje que vai denunciar à Comissão Europeia a existência de irregularidades na atribuição de fundos de apoio à agricultura, situação que terá “destruído a vida” de alguns profissionais, como Luís Dias.