Ramos-Horta falava numa entrevista gravada e exibida por vídeo no V Congresso da SEDES – Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, que decorre desde sexta-feira e até domingo em Carcavelos, concelho de Cascais.
Questionado, num painel sobre o futuro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), sobre a intenção da presidência rotativa angolana da organização lusófona de intensificar a sua componente económica, Ramos-Horta lembrou que a dimensão económica da CPLP é defendida há muito, mas “a realidade entretanto impõe-se: a CPLP não vai ter uma grande dimensão económica”.
O ex-Presidente timorense lembrou que mesmo Portugal, que tem uma presença diplomática forte em Timor-Leste e que tem relações fraternas profundas com Díli, “não tem um grande investimento” no país.
Para Ramos-Horta, a integração económica dos países da CPLP deve ser nos seus mercados regionais.
“Sentimentalismos à parte, cultura e romantismos à parte, cada um de nós tem de se habituar à sua região, como Portugal faz na União Europeia”, disse, lembrando que Timor-Leste se prepara para aderir à Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), um mercado económico de 700 milhões de pessoas e com um PIB conjunto de quase três biliões de dólares.
O ex-chefe de Estado defendeu por outro lado que a CPLP não deve copiar as organizações regionais, como a União Europeia ou a União Africana.
“A CPLP praticamente replica a organização das organizações regionais, com reuniões ministeriais de ministros de defesa, do turismo, comandantes da polícia. Francamente para quê? Eu não me importo. Se me convidarem para uma reunião de ministros de turismo na Foz de Iguaçu, no Brasil, eu alegremente vou (…), mas não pode ser”, disse, motivando gargalhadas na audiência.
Para o Nobel da Paz, a organização lusófona deve concentrar-se primeiro no esforço da expansão da língua portuguesa, no enraizamento da língua portuguesa, mas também na área da educação, da saúde publica, na área da investigação médica, na área das vacinas.
E para fazer isso “é preciso criatividade”, afirmou, sugerindo a criação de “uma televisão ‘online’ para jovens”.
“Os jovens dos países da CPLP, quando chega a hora de um programa CPLP, eles sentem curiosidade e vão para o seu ‘tablet’ ou celular e vão fazer um clique para ver o programa, para ver como vivem os povos nas aldeias em Moçambique ou os sertanejos lá no Brasil ou nas aldeias de Timor”, afirmou.
“Se for ao Brasil, quantos brasileiros sabem o que é a CPLP ou ouviram falar sequer de Timor-Leste”, questionou.
Para Ramos-Horta, a melhor forma de unir os povos lusófonos é aumentar o conhecimento que têm uns dos outros, e essa televisão ‘online’, que o entrevistador comparou a uma ‘netflix lusófona’, seria a resposta.
“É preciso unir primeiro todas essas comunidades através da nossa inteligência e criatividade, fazendo uso das tecnologias da comunicação do século 21, não é através de reuniões de burocratas de ministros de turismo ou da defesa”, concluiu.
Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste são os nove Estados-membros da CPLP, que este ano celebrou o seu 25.º aniversário, contando já com 32 países e organizações como observadores associados.
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