Com a sua mulher e também realizadora Danièle Huillet, que morreu em 2006, Jean-Marie Straub realizou uma obra “exigente e intensamente poética” e “escreveu uma das páginas mais importantes do cinema moderno”, acrescenta o Le Monde.

“Os olhos não querem estar sempre fechados — O cinema de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet” foi o título do ciclo realizado em 2018 na Cinemateca Portuguesa sobre o casal de realizadores.

A obra dos dois realizadores “é um dos grandes continentes isolados da História do cinema”, escreveu, na altura, a Cinemateca, consderando que a obra do casal “inseparável acabou por formar um único ser bicéfalo” e na qual em todos os filmes refletiam sobre a própria matéria cinematográfica.

A primeira restrospetiva sobre os cineastas realizada em Portugal data de 1975 e foi organizada pelo Goethe Instuituto de Lisboa.

“Realizador marxista, rebelde, intransigente, contestatário, tempestuoso e inflamado”, segundo o diário francês, Jean-Marie Straub morreu na noite de sábado para domingo em Rolle, na Suíça.

Jean-Marie Straub e a sua mulher, Danièle Huillet, que morreu a 09 de Outubro de 2006, “escreveram uma das páginas mais importantes do cinema moderno à margem do sistema, no decurso de uma aventura humana e artística sem igual”, precisa o diário francês.

Os “Straubs”, como foram chamados, são os pais de uma das obras mais belas e exigentes da história do cinema, caracterizada pelo enquadramento em imagens e sons de textos literários ou musicais, os de autores “amigos” como Bertolt Brecht, Friedrich Hölderlin, Johann Sebastian Bach, Arnold Schönberg, Cesare Pavese, Elio Vittorini, Pierre Corneille ou Franz Kafka.

“O trabalho de ambos era realizado através de uma arte irreduzível, firmemente ancorada num princípio ético e estético, o de reduzir os meios de produção à sua necessidade mais estrita”, escreve o Le Monde.

Nascido em 08 de janeiro de 1933, em Metz, Jean-Marie Straub interessou-se pelo cinema depois da guerra, inicialmente marcado pelos filmes de Jean Grémillon, como “Remorques” (1941) ou “O céu é de todos” (1943), obras que descobriu através do crítico Henri Agel no clube de cinema “La chambre noire” (O quarto escuro, numa tradução livre), em Metz.

Jean-Marie Straub considerou então escrever sobre cinema, tendo estudado literatura no Lycée Fustel-de-Coulanges, em Estrasburgo, obtendo depois o bacharelato na Universidade de Nancy.

Em novembro de 1954, mudou-se para Paris, quando eclodiu a revolta argelina. No Liceu Voltaire, numa aula preparatória para o Instituto dos Altos Estudos Cinematográficos, do qual foi expulso após três semanas, conheceu Danièle Huillet.

Nessa altura, conheceu também os “Jovens Turcos” dos Cahiers du cinéma, incluindo Jacques Rivette, François Truffaut e Jean-Luc Godard, futuros cineastas da Nova Onda.

Straub recebeu alguns deles, tais como Truffaut ou o crítico André Bazin (co-fundador dos Cahiers), no seu clube de cinema em Metz, para apresentar os filmes americanos de Fritz Lang ou os de Alfred Hitchcock, Charlie Chaplin, Roberto Rossellini, Kenji Mizoguchi – cineastas que defendeu ardentemente, muitas vezes contra a corrente da Federação de clubes de cinema, refere o diário francês.

Realizador, argumentista, produtor e ator, a carreira de Jean-Marie Straub conta com perto de vinte filmes, na maior parte em coautoria com a realizadora e argumentista Danièle Huillet.

“Machorka Muff” (1963), foi o seu primeiro trabalho, a que se seguiram “Não Reconciliado” (1965), “A Crónica de Ana Madalena Bach” (1968), “O Noivo, a Atriz e o Proxeneta” (1968) e “Othon (1969).

Nos anos 1970, realizou “Introdução ao Acompanhamento de Arnold Schoenberg a uma Cena de Cinema” ( 1972), “Lições de História” (1973), com o qual venceu o Prémio Especial do Júri do Festival Internacional de Cinema de Istambul, “Moisés e Arão” (1974) – o primeiro a assinar em conjunto com a mulher-, “Os Cães do Sinai” (1976), “Toda a Revolução é um Lançamento de Dados” (1977) e “Das Nuvens à Resistência” (1979).

“Cedo Demais, Tarde Demais” (1981), “Relações de Classe” ( 1984), que recebeu uma Menção Honrosa no Festival de Berlim, “A Morte de Empédocles” (1987),” Pecado Negro” (1989) e “Cézanne: “Conversa com Joachim Gasquet” (1989) são outras das suas obras.

“Antígona” 1992), “Lothringen” (1994), “Abram Caminho para o Amanhã” (1997) e “Sicília” (1999), cuja história é baseada num siciliano que regressa à terra natal depois de um longo período a viver nos Estados Unidos da América e que foi Prémio da Crítica do Festival Internacional de São Paulo, no Brasil, contamº-se entre os filmes mais recentes de Jean-Marie Straub .

“Le Retour du Fils Prodigue- Les Humiliés” (2003) e “Une Visite au Louvre” (2004) foram os seus últimos trabalhos de Jena-Marie Straub.

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