Em entrevista à TVI, o líder social-democrata admitiu que, devido à pandemia, o chefe de Estado terá "de dar institucionalmente mais a mão ao Governo", mas salientou que, passada a crise sanitária, "gostava de ver o Presidente da República no seu segundo mandato um pouco mais crítico e mais exigente com o Governo".

Ainda assim, Rui Rio defendeu que demitir o Governo seria "uma completa irresponsabilidade no quadro em que o país está" e "o pior que poderia haver agora", considerando que é necessário "remar todos para o mesmo lado e ajudar o país".

"De forma crítica, é certo, mas não criar boicotes. Não está na hora de eu tentar por cascas de banana ao Governo a ver se a coisa corre mal para eu ganhar votos com isso, não é para isso que eu estou aqui", acrescentou, advogando que "uma coisa é o Presidente da República ser mais exigente com o Governo, outra é o Presidente da República provocar uma crise e atirar com o Governo abaixo".

Sublinhando que "pura e simplesmente" nem lhe "ocorre fazer uma coisa dessas", o presidente do PSD lembrou a postura de "cooperação" que o partido adotou quando a pandemia de covid-19 chegou a Portugal, e garantiu que a mantém "naquilo que o Governo precisa", como o voto favorável ao estado de emergência.

Quanto às críticas de que o PSD tem sido alvo por parte do Governo, o líder social-democrata considerou-as "uma ingratidão" e "uma tática política errada", rejeitando ter "estados de alma" ou "ser vingativo relativamente ao Partido Socialista".

"Por mais que eu entenda que o PS é ingrato, e se porta mal, e que eu faria diferente se lá estivesse, há uma coisa acima, que é o interesse nacional", prosseguiu, rejeitando "criar um caos ainda maior".

No entanto, admitiu que agora tem de ter "sentido crítico" e pode "exigir que o Governo faça melhor", uma vez que agora "os erros são maiores".

Um dos aspetos em que admitiu fazer diferente foi na "questão do planeamento", onde o Governo "peca fortemente", sendo um dos exemplos o plano de vacinação, que classificou como "uma bagunça" e "uma aselhice de todo o tamanho numa matéria absolutamente vital".

No que toca aos casos de vacinação de pessoas não prioritárias, muito vezes justificados pelos intervenientes com a sobra de doses, Rui Rio questionou: "mas sobram como?".

"Os que recebem 50, mas afinal eram 40, descongelam aquelas 10 para quê se não têm as pessoas para dar? Não compreendo", criticou.

Quanto à vacinação dos deputados, criticou que o critério escolhido tenha sido o protocolo do Estado, segundo o qual Rio seria o segundo parlamentar a ser vacinado, e afirmou que aceitará ser prioritário caso haja "uma revisão dos critérios" que priorize "só aqueles que se consideram vitais para o funcionamento da Assembleia da República".

Questionado se demitiria a ministra da Saúde, o líder social-democrata apontou falhas, como a gestão dos recursos privados, e defendeu que Marta Temido "ia mais depressa embora" por isso, tendo reiterado que a ministra da Justiça deve sair na sequência da polémica em torno da nomeação do procurado europeu.

Rio acusa Ventura de dizer "bazófias" mas mantém possibilidade de acordo com o Chega

Rui Rio respondeu ainda ao líder do Chega, e terceiro classificado nas presidenciais de 24 de janeiro, que defendeu no dia das eleições que "não haverá governo em Portugal sem que o Chega seja parte fundamental".

"Enquanto for assim, com essas bazófias, eu acho que nós portugueses estamos bem relativamente à extrema-direita", declarou.

Aludindo ao discurso dos líderes dos partidos de extrema-direita de Espanha, Alemanha ou França, o presidente do PSD considerou que "eles não andam com essas bazófias nem vivem de clichês, têm um pensamento estruturado, têm lógica, e portanto a probabilidade de conseguirem captar eleitorado firme para si próprios é grande".

Já no caso do Chega, não é assim "nem de longe nem de perto", defendeu Rui Rio, justificando que "é um partido, porque está inscrito no Tribunal Constitucional, mas é acima de tudo uma federação de descontentes, ou uma federação do descontentamento, une-se pela negativa" e "vai buscar votos a todo o lado", mas "fundamentalmente à abstenção".

"Ninguém consegue ser um partido forte e com eleitorado sustentado quando é pela negativa", advertiu o líder da oposição, ressalvando que "todos" têm de se "acautelar" caso o Chega seja "transformado num partido pela positiva, com recursos humanos e com ideias", porque em "função do que for defendido e for construído pode ou não ser perigoso".

Na sua ótica, o Chega é também um "one man show" (espetáculo de um homem só) porque "não tem ninguém" além de André Ventura e, se não conseguir transformar-se, "vai esvaziar".

Questionado sobre um possível acordo com o partido liderado por André Ventura no âmbito das eleições legislativas, o líder social-democrata reiterou que exclui "um acordo com o Chega nos termos daquilo que o Chega neste momento é".

"Se fizer um caminho, uma evolução de moderação, vamos ver, podemos eventualmente conversar", acrescentou, sublinhando que "o PSD em circunstância alguma vai admitir ou vai aceitar que façam reivindicações para votar o seu Governo de matérias que chocam com os seus princípios", mas pode ceder "em prioridades".

Rui Rio aproveitou também para deixar "um recado" para quem o tem aconselhado a "fazer um discurso mais pesado, mais à direita, para captar esse eleitorado mais descontente", garantindo que não o fará porque "sempre foi um homem ao centro".

"A minha tarefa é captar as pessoas para as minhas ideias, não é ir atrás da direita, esse é que é o desafio. Não vou fazer obviamente um discurso meramente oportunista e tático para ir buscar" eleitorado ao Chega, vincou o presidente do PSD, entrevistado por Miguel Sousa Tavares.

Sobre o resultado das eleições presidenciais, Rui Rio enalteceu que a vitória foi de Marcelo Rebelo de Sousa, porque foi reeleito Presidente da República e "ganhou o centro, esmagou" (espaço onde se encontra o PSD, que apoiou a sua recandidatura).

Já o PS, “é derrotado nas eleições presidenciais” por “falta de comparência”, criticou.

Nas eleições presidenciais de 24 de janeiro, Marcelo Rebelo de Sousa, apoiado por PSD e CDS-PP, foi reeleito Presidente da República à primeira volta, com 60,70% dos votos.

A socialista Ana Gomes, apoiada pelo PAN e Livre, foi a segunda candidata mais votada, com 12,97%, seguindo-se André Ventura (Chega), com 11,90%.