O responsável deu esta garantia na conferência de imprensa, na segunda-feira, para apresentação das alterações ao projeto inicial de recuperação e valorização da Sé Patriarcal de Lisboa, cujas obras vão iniciar-se em janeiro próximo.

As alterações ao projeto inicial foram já apresentadas à Secção do Património Arquitetónico e Arqueológico do Conselho Nacional de Cultura, que reuniu em junho último.

“A proposta apresenta uma solução de compromisso entre a necessidade de reforço estrutural da ala sul do claustro (...), a reconstrução dos elementos arquitetónicos desmontados, e a preservação ‘in situ’ do maior número de estruturas associadas aos edifícios islâmicos ali identificados”, disse João Carlos Santos.

Esta solução permite “conservar ‘in situ’ a estrutura dos arcos” e a observação deste vestígio, que se encontra entre os projetados pisos -1 e -2, disse o diretor-geral.

A segunda alteração ao projeto inicial, hoje apresentada, tem em conta as recomendações da Secção do Património Arquitetónico e Arqueológico do Conselho Nacional de Cultura, nomeadamente “a integração dos vestígios arqueológicos” identificados recentemente, e a “musealização das ruínas arqueológicas”, disse João Carlos Santos.

Esta segunda alteração ao projeto vai permitir “mostrar mais um terço do que estava previsto, dos vestígios arqueológicos”, acrescentou.

João Carlos Santos afirmou que o núcleo da Sé de Lisboa vai dar uma larga perspetiva da diacronia da ocupação humana nesta área da capital (através dos séculos), não tendo sido adiantadas a suas datações. Entre os vestígios, além dos de origem islâmica há também romanos e medievais.

A conferência de imprensa contou com a presença do coordenador dos projetos de especialidade, engenheiro Aníbal Costa, que não usou da palavra, e do coordenador geral do projeto, o arquiteto Adalberto Dias, que explicou as opções escolhidas nesta segunda alteração, apresentando as diferentes plantas e referindo o percurso de visita.

Adalberto Dias salientou a necessidade de haver saídas de emergência, o que vai levar a abrir uma porta na rua das Cruzes, e a haver acesso de pessoas com necessidades especiais, o que obriga à colocação de um ascensor.

As arqueólogas responsáveis pelas escavações, Ana Gomes e Alexandra Gaspar, não estiveram presentes nesta apresentação.

Na audiência esteve o cónego Francisco Tito, Deão da Sé, que não prestou declarações.

As obras no claustro da Sé de Lisboa iniciaram-se na década de 1980, com as primeiras escavações, e uma das dificuldades do projeto foi a descoberta de sucessivas camadas arqueológicas que a análise estratigráfica não previra.

João Carlos Santos não deu valores, mas reconheceu que há uma derrapagem financeira: “Só em trabalhos arqueológicos complentares, há um investimento de 500 mil euros acima do previsto”, disse.

Os trabalhos entretanto realizados tiveram também em conta a estabilização dos claustros, que foram afetados com as escavações.

As obras são comparticipadas pela Conferência Episcopal Portuguesa, com quem o Ministério da Cultura assinou um acordo de cooperação em 2009, e contam com apoio europeu através do programa "Portugal 2020" - uma questão que está a ser revista pela Comissão de Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo, devido aos prazos já ultrapassados.

O programa-base para a recuperação da Sé Catedral de Lisboa foi estabelecido em 2012, integrado na Rota das Catedrais, e previa a construção de uma “cripta arqueológica para o percurso de visita ao monumento e ao núcleo de escavações arqueológicas, e ainda a reposição do jardim central dos claustros e a requalificação das suas capelas.

As obras nos claustros da Sé estão suspensas desde fevereiro passado, estando prevista a retoma dos trabalhos no início de 2022.

O atual projeto sucede ao pedido da DGPC de um estudo alternativo à exumação dos achados, prevista anteriormente, de modo a "garantir a estabilidade das estruturas a edificar" na Sé de Lisboa, "no sentido de minimizar a afetação dos vestígios arqueológicos" encontrados.