Da Maia, distrito do Porto, sexta-feira, partiu a missão Sorrisos de Esperança com uma equipa de 18 pessoas, um camião TIR para descarregar na Polónia os milhares de donativos angariados e um autocarro para transportar 52 refugiados para aquele concelho do distrito do Porto.

Mais de 1600 quilómetros depois, a equipa, constituída por um médico ucraniano a viver em Portugal há 21 anos, uma tradutora, também ucraniana, enfermeiros e membros da proteção civil, vai “dormir algumas horas” numa estação de serviço nos arredores de Paris, depois de ter efetuado um momento de “logística para os operacionais em trânsito para a missão humanitária”, também conhecido por parar para jantar.

A guerra na Ucrânia está a “criar novas dinâmicas” nas estradas da Europa: “Todos os dias vejo carrinhas, camiões, camionetas de vários países a caminho da Ucrânia, dá para reconhecer pelas bandeirinhas, os dizeres nos carros”, reportou à Lusa o Sr. Bacalhau, como se apresentou, um português de 63 anos, camionista, também ele “em trânsito”, numa área de serviço à entrada de França.

Na mesma área, a comitiva cruzou-se com um autocarro vindo do País Basco que se dirigia igualmente para um dos pontos da fronteira ucraniana. “Vamos buscar 60 pessoas, algumas famílias, só mulheres e crianças”, explicou o motorista da missão basca.

“Somos de uma associação humanitária e resolvemos fazer a nossa parte. Contactamos a embaixada polaca em Madrid e vamos buscar um grupo que fugiu para a Polónia há 4 dias”, disse.

“Além das camionetas também se vêem muitos carros particulares, carrinhas, com gente de boa vontade que paga do bolso para ir lá. Já me cruzei com várias de muitos países, França, Alemanha, Países Baixos. É uma coisa bonita de ver”, salientou o Sr. Bacalhau.

Para a comitiva da Maia, às 21.00 de sábado a viagem “já passou de metade”, mas ainda faltam muitos quilómetros: “Estamos a propor o que nos tínhamos proposto fazer. A viagem de regresso acredito que já vá ser mais complicada. Vimos com convidados muito especiais, com uma carga emotiva complicada, pessoas que vêm completamente desestruturadas”, explicou o chefe da missão, Mário Nuno Sousa.

Para o também vereador da Câmara da Maia, esta missão e a situação na Ucrânia devem ter “uma outra leitura e consequência” para a Europa.

“É também alguma forma de nos redimirmos, para aprendermos a olhar para todos os refugiados da mesma maneira. Eu sei muito bem qual é a diferença de reação que Europa está a ter em relação a outros refugiados.

Mário Nuno Sousa referiu esperar que “esta tragédia que está a atingir em cheio a cara da Europa, o coração da Europa, dê essa lição. O mediterrâneo não pode continuar a ser um cemitério. Era bom que esta tragédia também nos desse essa lição”.

A Rússia lançou a 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já causou pelo menos 564 mortos e mais de 982 feridos entre a população civil e provocou a fuga de cerca de 4,5 milhões de pessoas, entre as quais 2,5 milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas a Moscovo.

* Por Joana Carneiro, da agência Lusa