Avaliados em 20 mil milhões de euros, são o maior investimento privado em África e estão parados há ano e meio por causa da insurgência armada na região.

“A TotalEnergies poderá reconsiderar a sua posição inicial”, de só retomar os trabalhos com a “vida normalizada”: mesmo com alguns focos de violência armada na província, os preços são convidativos.

O Centro de Integridade Pública (CIP) estima que as previsões de preço do gás que sustentam o investimento dispararam 325% no atual contexto, com a guerra na Ucrânia e as sanções à Rússia.

“Pelo menos nos primeiros anos de produção, serão muito superiores às previsões iniciais” e o consórcio petrolífero pode obter “lucros extraordinários”, ainda que tenha despesas extra com segurança.

“É previsível um retorno rápido da TotalEnergies, mesmo considerando que na melhor das hipóteses o gás só chegará ao mercado em 2027/28 se as obras recomeçarem logo no primeiro semestre de 2023 e assumindo ainda que o projeto não irá sofrer nenhum atraso relacionado com a insegurança, que ainda é uma realidade”, acrescenta.

O cenário poderá recompensar os cofres do Estado moçambicano, mas o CIP alerta para outros riscos.

“O terrorismo em Cabo Delgado é, antes de tudo, uma crise de proteção, com civis, especialmente mulheres e crianças, expostos a graves violações dos direitos humanos”, destaca.

Neste sentido, considera urgente que “o Governo não caia na tentação de só proteger os interesses da TotalEnergies” em Cabo Delgado.

A ONG diz ser importante que o Estado “se concentre em criar condições para que haja uma paz efetiva e segurança generalizada em toda a região norte”.

A província de Cabo Delgado é aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

A TotalEnergies remeteu para o final deste ano uma reavaliação da segurança na região, para decidir sobre a retoma da construção da fábrica de liquefação de gás e a cidade industrial em redor.

Desde há um ano, uma ofensiva das tropas governamentais, com o apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), permitiu recuperar zonas onde havia presença de rebeldes, junto aos projetos de gás – apesar de os ataques continuarem noutros pontos da província e na região vizinha de Nampula.

Há cerca de 800 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.