Na sua intervenção na sessão solene do 25 de Abril, na Assembleia da República, o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, criticou os que apresentam a austeridade "como o alfa e o ómega, o princípio e o fim de todas as escolhas".

"E é pela voz do próprio Presidente da República que chega mais insistentemente esta ladainha. Quando tenta impor o consenso na austeridade inscrito à partida nos programas eleitorais, quer uma democracia tutelada. Na chantagem para uma maioria absoluta, qualquer que seja o veredicto popular, quer uma democracia condiciona", criticou.

Na mesma linha, a deputada do PCP Carla Cruz considerou que os progressos de Abril "têm vindo a ser seriamente atacados e destruídos, em especial nos últimos anos", e criticou os que cortaram salários e pensões para continuarem a pagar juros "de uma dívida insustentável", empobrecendo o povo e aumentando os lucros do grande capital.

"É esta política que os executantes da política de direita querem perpetuar", acusou.

"Disputando entre si pequenas diferenças de ritmo e intensidade, a troica interna dos executantes da política de direita confirmou nos últimos dias não ter para oferecer aos portugueses outra coisa que não seja a continuação da mesma política de exploração", disse, numa crítica implícita a PSD, CDS-PP e PS.

Também Heloísa Apolónia, pelo Partido Ecologista "Os Verdes", considerou que a crise foi aproveitada para agravar os fossos entre os ricos e os pobres, "tendo aumentado significativamente o número de pessoas em efetivo risco de pobreza".

"E já foi anunciado que pretendem manter cortes nos rendimentos e aumentos de impostos durante mais uma legislatura inteira, contrariando o que antes tinham dito", criticou, lamentando que apenas se encontre espaço para baixar o IRC e eliminar a contribuição extraordinária do setor energético, referindo-se a medidas contidas no Programa de Estabilidade já apresentado pelo executivo.

No entanto, os Verdes deixaram igualmente críticas implícitas ao PS, que esta semana apresentou o seu cenário macroeconómico para os próximos anos, dizendo que "a alternativa não pode ser fazer igual mas a um ritmo diferente".

No seu discurso, o líder parlamentar do BE citou Zeca Afonso e a rapper Capicua para lamentar que, dos cortes extraordinários dos salários, tenha passado "a ser extraordinário ter um salário", o mesmo se passando nas pensões.

"Querem que a austeridade seja a nova normalidade, o edifício onde os direitos se desconstroem, onde os serviços públicos se decompõem, e onde o futuro se faz passado", acusou, dizendo que o povo que fez o 25 de Abril em 1974 "não se vergará aos sacrifícios constantes da austeridade e não se condiciona a qualquer inevitabilidade".

Também para o PCP é "na afirmação das conquistas de Abril consagradas na Constituição que o país encontrará respostas para enfrentar os problemas atuais e futuros".

No ano em que se comemoram 41 anos das eleições para a Assembleia Constituinte, a 25 de Abril de 1975, a deputada do PCP aproveitou para saudar os deputados constituintes e lamentar que, desde a primeira hora, a Constituição que veio a ser aprovada um ano mais tenha tido "inimigos declarados que em sucessivas revisões a amputaram e empobreceram, limitando o seu alcance e conteúdo progressista".

Heloísa Apolónia escolheu dedicar parte da sua intervenção aos desempregados e trabalhadores precários, relatando vários episódios de denúncias que chegaram ao parlamento de pessoas que, por medo, não deram a cara.

"O que é que se passa neste país 41 anos depois do 25 de Abril?", questionou, dizendo que "a lógica do medo não pode, jamais, retomar lugar neste país.

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Lusa/fim